Sedimento fino

Sou argila,
sedimento fino em suspensão.
Toda intempérie me carrega.
Parte de mim é erosão.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Reflexão

O Deus Tempo apenas passa...

Numa noite, choveu sobre mim um lembrete: O tempo passa e a gente não percebe. Mas é possível surfar nas suas ondas. Cortar a superfície das suas águas. Ser sábio. Viver. Num eventual desequilíbrio, mergulhe, retorne à praia. Confie na atração Terra – Lua. Confie na maré. Certamente haverá outra onda.

Na vida, nós temos perdas e ganhos, sempre. Sorte e azar, vitórias e derrotas... Destino, universo, Deus. Chamemos como mais agradar. Mas viva a sua vida com sabedoria. Seja feliz. Batalhe pelo que é seu, camarada. Cuide do seu rebanho. Amor, família, amigos, paixões... Cuide da sua vida! Senão o tempo te engole. E te cospe no Reino do Tarde. Não conhece? Então ainda há tempo pra ti.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Sem título

Quando um pernilongo se alimenta do meu sangue,
percebo que estou acordado.
Me irrita mais saber
que meu sangue fora dragado em vão.
Me irrita mais que o seu legado: A coceira.

Quando o vento bate na roupa do varal,
percebo que realmente sou eu neste corpo.
Apreciar fenômeno deveras simplório
a ponto de ir participar,
se misturar,
o que não tenho feito com tanta habilidade
no domínio dos seres humanos,
na sociedade.

Mas ainda prefiro um pernilongo
como sendo a pedra no meu sapato
a um asteróide no meu quintal:
Os problemas deste mundo
que tanto me fazem mal.
Prefiro morar com os pernilongos.
Serviria um pouco do meu sangue a eles
todos os dias
em troca de paz.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sem título

Eis aqui a flor esquartejada
Num solo ressecado
Castigado
Pelo sol de cada dia

O solo já não merece esse fardo:
Sustentar um ser despedaçado

As pétalas não regressam.

Eis aqui a pétala desmembrada
Ressequida, desidratada
D'uma flor quase despida
Pela vida
Pela abelha da vez
Rainha da despedida
Prova o nectar e vai-se embora

sábado, 24 de julho de 2010

Gol do Bahia

Gol do Bahia!!
Alarme-Falso.
Verdadeiro-Alarde.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Naamá No Mar

Duas criaturas
Dois parceiros
Dois irmãos

Dois semelhantes
Tão distintos
Tão distantes

Duas peças disformes
De um quebra-cabeças
Ora se encaixam
Ora truncam
Trincam

As criaturas
Os olhares
Os sorrisos
Hoje são dois
Hoje.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Trechos de trechos

... Ele a deseja tanto, naquele momento. Ele a observa, analisa cada parte, cada tonalidade (da pele rósea de sol, dos cabelos loiros, dos lábios brasis, dos olhos sapecas). É! Aquela criatura de estatura tão singela é furtada naquele momento pelo observador. É absorvida por completo por seus órgãos sensoriais. É tragada como o ar do campo, sintetizada como a luz nas folhas, é alimento para os olhos, é combustível para o observador. É filtrada por sua percepção e olha onde ela vem parar: Ela passa para o outro lado. Aqui, neste momento-papel. Aqui, nas palavras do observador...

(Algum lugar em 2007)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Sem título

Se o mar fosse doce
Eu o salgaria de lágrimas
Lágrimas de um amor perdido, distante
Alimentam o mar que navego só
Não há ilha, nem porto, nem cais
Eu deságuo todos os dias e só há sal
Nada mais

(Algum lugar em 2008)

Sem título

Um momento único
É quando me deito pra dormir
É quando sou mais eu

No resto do dia
Sou muito das influências dos outros
Pois o mundo tendencia

Sou muitos

Tentar ser puro nessas horas
É como dar braçadas
Ofegantes braçadas contra a maré

E, a noite, tudo começa outra vez
É quando eu regresso
À minha pequena ilha

É quando o tempo escoa ao contrário

Até amanhecer

sábado, 3 de julho de 2010

Nota de falecimento

Ultimamente ando gritando
E ninguém me ouve
Porque não estou aqui
Eu estou lá
E se desse para ouvir
Seria numa nota de socorro

Eu grito numa nota só
Minha nota de socorro
Minha nota de falecimento
Dos sentidos, do corpo, mas nunca da alma

Ultimamente venho perdendo a cor?
Não!
Ultimamente MEUS OLHOS não vêem cor
Já não lembro do doce ou do salgado
O que ficou foi o azedo e o amargo
Aos quais fui predestinado

Queria poder ver a lua mais uma vez
Na minha tela onde só há escuridão
Queria poder entoar outras notas

Tudo agora se resume a uma torneira pingando
Eu estou como ela
Entoando uma nota só

(Algum lugar entre 2007 e 2008)