Sedimento fino

Sou argila,
sedimento fino em suspensão.
Toda intempérie me carrega.
Parte de mim é erosão.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Convergir

A fim de participar de um concurso literário, fiz algumas alterações em um de meus poemas.
O resultado, postarei aqui. E, para conferir o original, no link a seguir: http://gabrielalem.blogspot.com/2011/02/sem-titulo_25.html.

Então, segue a alteração, com título e tudo o mais:


Convergir

Era um abismo
entre o utópico e o palpável:
Braços abertos sem contato.
Entre a minha palma e a tua face,
uma superfície:
O toque.
Entre a minha palma e a tua face,
surge, então, uma zona que cisalha:
Afago.
Entre mim e você,
a distância se desfaz:
Enfim,
não mais dois extremos inalcançáveis.
Até os meus e os seus braços
o nosso mundo se refaz
unidos em um abraço.



Os devidos créditos à Carlinha (C.V.).

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Sem título

Na maciez da sua pele.
Na mão singela
que outrora deslizei minha palma.
Jazem os restos murchos e podres
das flores
que supriam a minha alma.

Na mais pura ternura.
Nos mais doces afagos.
Nos mais quentes abraços...
Ah, me doei [dói] a amargura
quando alheio aos seus passos.


--algo lá de trás e só postado agora--

Sem título

Agradeço ao mundo
pelas voltas que ele dá.
Agradeço aos movimentos
de rotação e translação.
Agradeço ao universo
por estar em expansão.

Sem título

Foi aberta uma passagem até a lua,
como um vale,
por entre as nuvens.
Logo logo ela se fecha
nos domínios do céu noturno,
onde o vento se encarrega
de soprar os caminhos.
Mais um pouco e ela se abre
[a passagem]
lá ou cá.
E quem perdeu pode passar.


Para se chegar até a lua,
siga os caminhos do vento.
Ou, fatalmente,
aguarde o próximo ciclo.
O próximo momento.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Sem título

A minha intenção
não é definir nada, meu bem.
Apenas quero saber
se somos gases, líquidos
ou sólidos a vibrar.
Gostaria de saber
se temos fluidez
ou extrema viscosidade.
Se podemos avançar
num fluxo só nosso.
Independa o estado físico.

Jamais espere isso de mim

Jamais espere que eu mude, em essência.
Jamais espere que eu seja
aquilo que não sou.
Eu sou muito além
do que os seus olhos podem ver.
Sou além do que possa tatear.
A cada unidade de tempo,
fraciono-me mais.
A cada vez em níveis mais superiores.
Mais crustais.
Hoje sou continente evoluído.
Sou fanerozóico.
Em essência, sou pétreo.
Sou rocha cheia de cicatrizes
de aberturas e colagens,
muitas dessas, em superfície,
já erodidas pelas intempéries da vida.
Pois então, não espere que eu mude
a minha alma pétrea
(dúctil, dúctil-rúptil, rúptil-dúctil, rúptil...).
Pétrea.
Eu mudo o meu prospecto,
Mudo de você.

Sem título

Você representa a personificação
da minha grande dívida,
que espero,
enfim,
estar quitada.
Como bom aventureiro,
vou seguindo,
consumindo a vida
para, quem sabe,
endividar-me outra vez.
Mas não com você.
Isso seria o ideal.
E a voz da razão
que jamais tive.

domingo, 22 de maio de 2011

Sem título

Hoje sou pequeno e fraco.
Tenho medo de andar
pelo mundo onde falta a paz.
Tenho medo de cair e machucar.
Mas sei que no final
a minha paz será suprema.
Incontestável.
Plena.
A minha voz,
enfim, será ouvida.
E eu me agigantarei
perante o mundo,
mesmo depois
de tanto ter sangrado
por dentro.
Ah, um dia alcançaremos
a maturidade dos sábios.
-Paciência.
E, no presente tempo,
tudo é latência
de um futuro que esperneia
feito criança.
Mas a sorte é devagar.

sábado, 21 de maio de 2011

Sem título

A poesia que faço é tua.
É teu cavalo de vento
que cruza a corrente,
sem medo,
num dia de agressiva chuva.
É lebre veloz de liberdade
que dança sob a mira
do senhor caçador.
É leve e veloz de verdade,
feita do que vem de dentro.
Com amor.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sem título

Olha, eu sou um obelisco.
Sempre a vista.
Então, não se perca de mim
pois estou aqui,
alto,
estático
e precisando de você.
Olha pra mim
e esquece o labirinto.
Apenas segue.
Segue a agulha, a ponta.
Aponta para mim
e vem
transpondo as paredes
de besteira qualquer.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Depósito de sonhos

Hoje há um bom motivo pra se inspirar:
Olhar pra cima.
Olhar pra cima e ver
um céu do tipo filme de terror,
com lua de fogo
por entre as nuvens.
Olhar pra cima e ver,
no alto, resina nos vapores.
Ver ovo frito no céu.
Tufos malucos insistem
que vivemos numa concha.
Numa cuia. Numa cunha
cuja textura
muda o tempo todo:
Tufos malucos e inconstantes.
Nos fazem de besta.
Algodão doce, coração,
foguete, dragão,
besouro doido,
rostos, monstros,
bichos, ovo frito...
Um verdadeiro depósito de sonhos.

sábado, 14 de maio de 2011

Sem título

Foi-se.
Foice do universo.
Morte da esperança.
Foda-se.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Sem título

Eu conheço uma mulher.
Ela é a rainha de um reino.
Ela tem um dom. Um dom...
De provocar uma reação estranha
nas pessoas que cruza.
Na verdade,
ela vai tecendo alegria...
Como eu disse, é um dom.
Ela não faz por bem
ou por mal.
Faz que nem sente.
Ela vai tecendo alegria,
colorindo, sorrindo,
falando alto...
Feiticeira!
Resgata sorrisos das profundezas,
extrai como mágica
e os deixa na epiderme.
Ela é o fim da latência
dos risos contidos.
Feiticeira. Só pode.
É um dom.
O dom de uma rainha.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Levanta-te!

Eu quero força.
Força para lutar
quando preciso for.
Força para me defender,
em todo momento,
das presas, dos caninos,
dos espinhos, dos venenos,
dos ferrões, dos abraços de urso...
Das mordidas e das patadas
que a vida dá.
Eu quero a couraça
dos guerreiros da natureza.
Quero garras, cornos
e uma mandíbula poderosa.
Agilidade e mimetismo.
O equilíbrio
torna o fraco menos fraco
e o forte mais forte.
Eu peço força
para sair desse equilíbrio.
Eu apanho,
o que me faz cuspir fogo.
Mas acabo percebendo
que cada pancada que recebo
é a resposta ao meu pedido.
Acabo percebendo
que sou privilegiado
por ter a chance de apanhar.
Afinal, cada derrota é uma dádiva.
Perca. E cresça.

sábado, 7 de maio de 2011

Sem título

A Terra é branda.
Tão branda.
A Terra é paz.
Observar a atmosafera,
daqui,
liberta.
Ser pequeno
e contemplar uma imensidão.
Ser humilde.
Cada um fazendo
o seu papel na natureza.
E assim se perpetua a paz.

A luz, força de Deus,
permite a vida.
Na atmosfera,
seu espetáculo é cotidiano.
Liberta. Liberta observar,
daqui,
a aquarela
de nuvens e luzes.
Então,
não apaguem a luz.
E mais vezes
basculem para o alto o seu olhar.

Sem título

Permita. Permita que seja livre a sua beleza. Ela será mais bem recebida pelo perceptor do que a soma que é a vontade de agradar. Cada indivíduo possui uma beleza única que, se poluída pelo que o leva a modificá-la para assim poder agradar alguém, deixará de ser única, deixará de ser original, deixará de ser sua, deixará de ser bela.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sem título

Meus problemas agora
são problemas futuros.
São amarelos, xantópticos.
São cheios.
São outros cachos.
E, no toque surgente
sobre a fina mão,
amplificam-se.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sem título

Hoje eu seria capaz
de escrever raios e trovões.
Materializá-los no papel.
Seria capaz de inundar tua mente
com toda a água que desabou hoje do céu.
Hoje eu sopraria os vendavais arrasadores,
as tempestades, do sul e do norte.
Limparia a atmosfera com uma borracha.
Abraçaria a lua...
Hoje eu tornaria o impossível possível.
Porque hoje é o dia. O dia.
Mas, por agora, quero apenas dormir.

domingo, 1 de maio de 2011

Cordilheira da dor

Estou desequilibrado.
Hoje e tanto como jamais estive.
A conversão de tristeza em letras não é possível.
E cresce, cresce, aquela dor familiar de tantos outros versos.
E crescem, crescem, os meus versos de poemas salgados e amargos.
Crescem, crescem, toda a azia e dor no peito, das angústias e dos temíveis pesadelos.

E, de todo o mal estar, há de sempre dobrar. Há de sempre transformar.
O universo é, no mínimo, dual e, onde há positivo, há negativo.
Onde há o mau, há sempre o bem para equilibrar.
Peço desculpas ao mundo pelos versos.
Esses versos de dois lados.
Versos equilibrados.