Sedimento fino

Sou argila,
sedimento fino em suspensão.
Toda intempérie me carrega.
Parte de mim é erosão.

sábado, 30 de julho de 2011

Dipolar

Se damos certo,
é porque eu sei receber o que tens a dar
e dou-te o que necessitas ganhar.
É porque sabes receber o que tenho a dar
e dá-me o que necessito ganhar.
E assim a roda gira viva
em nosso mundo covalente.

Amor: Sentimento egoísta?

Muitos tentam explicar o amor. Muitos emitem seus pontos de vista a respeito desse sentimento. Mas há um ponto de vista, o qual não concordo, que fataliza o amor como egoísta. Convenhamos que, quando se está amando, o corpo produz algumas substâncias, hormônios, que provocam sensação de prazer. Talvez, querer sentir prazer seja egoísta. Porém, a sensação do prazer é uma consequência do amor. Tenho isso como um mecanismo da natureza para garantir a perpetuação da espécie. Imaginemos, se o sexo não proporcionasse prazer, a perpetuação da espécie estaria comprometida, de certa forma. Haveria riscos palpáveis a perpetuação. E se não houvesse prazer na alimentação? E a degustação? Para os mais sensíveis, e se não fosse prazeroso sentir o ar a cada preencher dos pulmões? O fato de possuirmos órgãos sensoriais e de sentirmos prazer para algumas coisas e para outras não... Para outras, dor... O fato de sentirmos o doce, o salgado, o amargo e o azedo... O fato da existência dos sabores... Tudo isso são mecanismos utilizados pela natureza para que haja harmonia no universo.
Voltando ao amor, sentimento divino, o meu ponto de vista dita que, se a natureza não tratasse de espalhar esse sentimento no mundo biótico e se, principalmente, não tratasse de atribuir determinados efeitos colaterias a esse sentimento, não seria tão interessante aos indivíduos amar. Amar o próximo. O próximo amar. Amar e sentir prazer por isso. Amar uma mulher... Haver reciprocidade e, então, conexão. Então, não é egoísta amar. É consequente o prazer que se sente ao amar. A natureza que encontrou uma maneira de tornar o amor viciante. E, se cada indivíduo quiser ser um pouco "egoísta", estaremos todos amando, uns aos outros.

Sem título

Eu quero é sentir a segurança
de um bebê ao cheirar o leite materno,
ao sentir o calor no seio da mãe.
Eu quero é conhecer o chão
como o conhece o bebê que engatinhou antes de andar.
E não terei medo de cair.
E que esse bebê cresça forte e saudável.
E que sua mãe seja uma guerreira inabalável.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Sem título

Saudade enjaula, contém.
Esmaga sem dó, oprime a fera.
Sem lá e sem cá,
não se alia a ninguém.
Adensa e comprime: Bombificação.
E no peito de quem entende de excessos
encontra uma morada aconchegante.
E murmura e palpita e faz palpitar...
A saudade só cumpre a sua função.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

38 dias de saudade

Ah, a saudade é algo que já se sente antes de zarpar
assim como o amor se sente antes de aportar
e como se crispa antes de gemer.
Houve um tempo em que a distância foi presente
-e um presente.
A presença, mais que presente, saudade latente sobre meu ombro.
Quem entende? E pra quê?
Sinto saudade. Agora, a saudade da ilha a qual aportei -e que zarpei.
(Raios! Não sou marinheiro!)
Saudade do cisalhamento sobre o rabisco,
sobre a maciez epitelial.
Saudade do bom funcionamento dos sentidos.
Ah, meus sensores em festa!
Sinto saudade da peça e do seu encaixe perfeito,
da face apaixonada e daquele olhar.
Olha! O meu navio voador, da saudade e do amor, vai te buscar.
Esteja pronta, se aprume.
Quero te dar mais que camisa. Mais que tudo.
Não nasci pra ser caminhoneiro.
Por ora, aguardo da presença um presente
da semente que plantei em solos atrás.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Harmonia em tempo

Um menino sentado na pedra, mirando o horizonte.
Do relevo dissecado e pelos vales a serpentear,
o olhar percorre a superfície coberta pela mata lenhosa.
Um homem sentado na pedra, mirando o horizonte.
As cascatas aguando as paredes e as rochas cobertas de limo.
A mata lenhosa já não é a mesma. O limo já não é o mesmo.
Um velho sentado na pedra, mirando o horizonte.
A mata, o limo, o menino... Nem a pedra, o vale, a cascata, o horizonte...
Mas a mata, o limo, o menino, se mostram passantes.
E a pedra, o vale, a cascata, o horizonte, perenes,
enquanto estrelas e planetas morrem lá fora.
Enquanto o brilho fantasma vem nos assombrar,
a pedra, o vale, a cascata, o horizonte
não são mais os mesmos.
E o menino, o homem e o velho alcançam a harmonia dentro de seu tempo.

GeoCronos

Coisa linda de se ver
é o tempo quebrando os rochedos.
Os rochedos quebrando com o tempo.
Os rochedos quebrando o tempo.
E o tempo quebrando nos rochedos.
Pois é, coisa linda de se "ver".

Receituário de um perdido no quando

Tomai um comprimido de tempo, diariamente.
O esperado é que a tua mente dilate, aos poucos.
A dose é diária. O exércício também.
O processo é lento e o efeito não é garantido.
Agora, tomai um xarope de diluído de tempo, diariamente.
Aguarda a contração da mente, apertando, aos poucos, as sinapses.
A dose é diária -mas o que é um "diário"?
O processo é lento -"lento"?
Sabe-se de coisas que moram no tempo, um momento...
Após dilatar e contrair a mente,
com os comprimidos e os diluídos, respectivamente,
se o paciente não sente, vai viver eternamente
enrolado na teia do monstro.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O tempo

Ser Senhor do tempo é para poucos.
Para poucos.
Domínio de si mesmo,
das emoções.
Domínio do eu e do outro.
Apartar-se.
Abster-se.
Congelar o coração.
Ver o tempo passar.
Ver a chama queimar toda a cera,
todo o pavio,
tal qual dominador das horas.

O tempo não é encontradiço.
É traiçoeiro.
A hora pode ser dia,
segundo pode ser minuto.
Balbúrdia e anarquia,
à medida que chegamos mais perto,
no buraco que tanto mais cresce
quanto mais pensamos.
Quem me dera abraçar a humanidade
como faz o tempo -nosso deus.
Nosso deus inventado.