Sedimento fino

Sou argila,
sedimento fino em suspensão.
Toda intempérie me carrega.
Parte de mim é erosão.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Sem título

Sou o mesmo de tempos atrás.
A não ser por um ou dois detalhes a mais.
É que agora
certas ondas de som me carregam.
E a loucura, que sempre estivera presente,
contida,
se rebela, reivindicando a percentagem de mim
que lhe é sua de direito.

segunda-feira, 21 de março de 2011

O já dito e escrito

Ah, dito maldito!
Dito já dito.
E já escrito.
Maldito seja esse destino,
que me dita a sorte,
bem dita maldita sorte
dos amores mal ditos.
Amores mal corridos.
Amores escorridos.
Amores esvaídos...
Amores que se vão.
E eu gotejo por esse vão.
Mal digo que é paixão
e me evaporam
para gotejar n'outro lugar.
Ah, maldito dito já dito.
Enquanto gotejo,
maldigo,
medito:
Raios!
Jamais farei parte disto!

sábado, 19 de março de 2011

Sem título

Estou sob o sol,
secando, quarando.
Com o tempo,
perderei todo o meu fluido,
toda a minha cor.
Estou exumando
e perdendo minha ductibilidade.
Estou me tornando uma rocha?
Uma rocha desidratada.
E a vida continua.
E a sorte conspira.
Estou perdendo esperança.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Letícia, olhos de paisagem

O relevo colinoso, em meia laranja,
da convexidade de teus olhos fechados
dá forma a tua face.
Erguendo-se as pálpebras,
cortinas do espetáculo,
o verde musgo se mistura com o mel de abelhas
-doce limo dos bosques-
e os zangões, curiosos,
provam do doce isopor
dado pela malha do espaço.

terça-feira, 15 de março de 2011

Estar humano

É tão breve uma vida humana
que considero um luxo ser.
É como um presente,
uma permissão,
uma vantagem.
Sentir o tempo como sentimos.
Sentir a arte como sentimos.
Sentir a música.
Sentir as ondas.
Sentir o amor.
Sentir uma dimensão específica...
Estar humano
é estar numa faixa estreita de frequências
por tempo limitado.
Um breve deleite.
Um privilégio.

sábado, 12 de março de 2011

Sem título

Lua, ó, lua!
Tinge de ouro velho

as nuvens, o céu.

Reúne as estrelas

presentes, cadentes,

fantasmas no tempo ou não.

Agrupa a todos

para a nossa linda fotografia,

para o nosso álbum de família,

para a nossa poesia.

Reflete no mar,

clareia os caminhos noturnos.

Clareia os espasmos de solidão

de um fotógrafo aficcionado.

Sem título

Todos nós temos a mesma capacidade de amar. Só que nem todos estamos na mesma frequência emocional. Uma maneira de nos sintonizarmos numa faixa razoavelmente próxima, é vivendo em paz. Mas em paz consigo mesmo, para começar. Viver sem pressa, cada qual em seu tempo e respeitando/tolerando o tempo do próximo.
Às vezes, razão demais atrapalha. Às vezes, é a razão da nossa cegueira.
Às vezes, a busca desmedida atrapalha. Às vezes, nos cega também. Busca pelo quê? Aí é que está. Pelo quê? Se você não sabe, quem mais pode saber?
Um conselho a você, pobre atormentado, viva o presente, em paz, pois o momento é um presente. Erre! E ganhe com o erro. Ganhe! E não ganhe nada, a não ser a chance de perder ou ganhar novamente, pois tudo recomeça. Não existe perdedor e vencedor. Existe participante. Então, participe da sua própria vida da melhor forma possível. E lembra-te: Não existe fim no meio do caminho. Vai vivendo. Vai amando. Mas vai em paz.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Sem título

Sou planta sensível, em ambiente hostil,
a qual luta para sobreviver.
Comprimentos de onda, frequências,
mares de gente,
passam por cima de mim.
Me arrastam.
Tentam arrancar-me de mim,
do meu pedaço de chão,
que é o que me resta.
Ambiente hostil.
E eu orquídea.
Hélices-pétalas soltam-se,
uma a uma.
Espalham-se
formando o tapete-caminho
que me levará em segurança ao ninho.