Sedimento fino

Sou argila,
sedimento fino em suspensão.
Toda intempérie me carrega.
Parte de mim é erosão.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Sem título

Às vezes, o sentimento
atropela as palavras.
E a tradução se perde
na vontade de tocar.
Pois a vontade de dizer
fica apertada
na garganta estreita.
E a palavra
se faz ineficaz.
Às vezes,
a vontade de tocar
não passa.
Pois o instrumento do toque
não se move.
E em minha mente
é festa.
E guerra.

Raios! Raios de sol.

Sem título

Percebi que o que sinto
é apenas a sensação
de membro amputado.
Um fantasma: Acostumei-me com a sua presença.
Rabo de lagartixa:
Ácido lático e espasmos!
Percebi que o que me espera é maior.
Que essa sensação
é apenas acidente de percurso,
parte do caminho.
E o destino é um extremo
e uma constante.
Uma reta silenciosa.
O patamar final.
O juízo.
A consciência.
A paz.
A harmonia.
O equilíbrio.
A sintonia.
A liberdade.
Só que no caminho
há assuntos importantes a tratar.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sem título

Entre a minha palma e a tua face
há uma zona:
Afago.
Entre a minha palma e a tua face
há uma superfície:
O toque.
Entre o utópico e o palpável
há um abismo:
Solidão.
Entre mim e você,
a distância:
Dois extremos inalcançáveis.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O mistério das latas perdidas

Há muito, muito tempo...

...quando a nossa moeda ainda nem era o Real, um garotinho, muito sagaz para a sua idade, ganhou de presente uma latinha de bolas coloridas de frescobol. Sem as bolas. Provavelmente, quem o presenteou com a fascinante latinha, fora o seu pai. Provavelmente.
O garotinho, que além de muito sagaz, era também -e, provavelmente, até hoje é- detentor de um intrigante bom senso. Consciente era esse garotinho, que preservava os seus bens, seus pertences; que colecionava; que protegia os seus brinquedos das garras dos irmãos; que guardava as suas moedas de Cruzeiro Real...
Um dia foi proposto a ele -provavelmente pela sua mãe- juntar moedas em latinhas. E caíram bem as moedas na latinha, como um casamento que deu certo; como duas peças de um quebra-cabeças; como esses clichês do tipo "as metades da laranja", "yin yang", "alma gêmea"...
E muito bem o garotinho juntava as moedas que, logo logo, surgiu a necessidade de outra latinha. E depois outra e outra. Eram latas de leite, de achocolatado, de bolas coloridas de frescobol... Um dia, a mãe do garotinho pediu-lhe umas moedas para ajudar na feira da semana (sempre aos sábados). Com dificuldade ela o convenceu a ceder-lhe umas moedas. Só que o inconveniente passou a se repetir. E não apenas para as feiras semanais. Inconveniente porque o bendito garoto era muito fiel e determinado com a sua missão de guardar as moedas. Tão fiel e determinado, tão focado na tarefa que, é provável que ele nem soubesse o porquê de juntar as moedas. Não era ruindade, nunca foi. Nobre sempre o foi.
Com a necessidade das moedas se tornando frequentes pela mãe do garoto, surgiu uma idéia: Esconder as latas. Qualquer buraco se tornava caixa-forte. Debaixo da cama, falho! No armário da estante, detrás das bugigangas, falho! Qualquer esconderijo era falho.
Mas com cada tentativa falha, como dá-se para perceber na ordem em que foram citadas, o garotinho ia adquirindo experiência na arte de esconder dinheiro. Um dia, ele escondeu as latinhas (que já eram muitas) tão bem escondidas; numa caixa-forte de tão avançada tecnologia anti-furo; projetada por renomadíssimos engenheiros que, num dia bem agitado -e ele achou mesmo tão estranha a agitação daquele dia-, a sua mãe pediu-lhe todas as latas. Todas as latas! Todas as moedas dele! Mas que absurdo, ele deve ter achado. Absurdo e muito estranho. Ouviu todas as desculpas mirabolantes da parte de sua mãe. Até mesmo que a moeda nacional iria mudar e que se não as entregasse, ele perderia toda a sua fortuna reunida ao longo de muitos e muitos anos de canguinhagem desmedida.
Mas, depois de árduas tentativas de convencimento e persuasão, o garotinho foi vencido. Só que, na hora de tirar as moedas da caixa-forte...
-Cadê? Você pegou! Você pegou! Minhas moedas!
-Não, meu filho! Você não se lembra onde as escondeu.
-Não, você pegou! Alguém pegou! Pegaram minhas moedas!
"Pegaram", termo muito usado quando não se tem o controle da situação; quando não se entende a situação.
Enfim... Tão bem escondidas foram as latas que, de fato, a moeda nacional mudara naquela ocasião. E o governo dera um prazo para que a população fosse trocando o papel-moeda. Os dias foram passando, o prazo foi se esgotando e as latas nunca foram encontradas. Gnomos? Duendes? Mãe? Pai? Irmãos? Tantos eram os suspeitos pelo sumiço das latas.
Essa é uma história que não tem final feliz. As latas apareceram tempos depois. E é justamente por isso que a história não tem final feliz. Apareceram tarde demais.


---Para minha mãe. Aguardo correções nos fatos e nos erros de português, Lala.---

A caixa

---Em andamento---

Fico imaginando como seria o universo, se cada elemento fosse uma "ilha". De fato, é bem interessante refletir sobre tal questão. Na verdade, é interessante refletir. Refletir. Sobre tudo, em conjunto ou separadamente. Refletir. Expande a mente. É como desamassar uma bola de papel. Desamassar o cérebro de dentro para fora, se esticando.
Mas, retomando o raciocínio, é difícil imaginar como seria a dinâmica do universo se os elementos não se inter-relacionassem. Um sujeito sempre está sujeito. Um sujeito sempre sujeita. O bater das asas de uma borboleta, em um lado do planeta, repercute do outro lado. O consumo de hidrogênio e hélio, no centro do sistema solar, repercute na forma de alimentação de seres "auto suficientes" do lado de cá. Uma ínfima variação na estabilidade do zero absoluto resultou em 13,7 x 10 à nona potência (em anos) de expansão... Enfim. O que quero dizer é que todo e qualquer evento tem sentido e cada elemento está ligado, ou seja, todos estamos ligados uns aos outros, sejamos matéria ou energia. É preciso raciocinar para além do campo da vida. É preciso percorrer os domínios do que compõe tanto a vida quanto os corpos em geral. Matéria em geral. Matéria que ocupa espaço e tempo e que transforma energia.

---Continua---

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sem título

Preocupo-me
em utilizar a palavra certa,
não visando a estética,
a rima ou a métrica.
Mas sim,
o sentido.
Em como o meu mar
de palavras
irá quebrar
na costa da tua mente.

Sem título

Seres que vivem sob circunstâncias extremas.
Seres que vivem situações extremas.
Só eles podem alcançar um nível de percepção aguçada, o que os torna seres de difícil compreensão. Insanos? Sem luz?
Um cão de rua, um burro trabalhador, um peixe no aquário, um sapo, uma minhoca, um humano castigado...
O fraco. O incapaz. O invisível.
Aquele que passa e/ou passou por provações das mais severas. Só ele pode saber. Só ele pode entender.
Ele foi reativado. Teve seu cérebro chacoalhado.
[Pois o ser humano nasce pronto. Porém, é necessário que haja a circunstância que promova o despertar.]
Ele agora é imune às mentiras do mundo. Só ele pode ver a verdade (que não existe uma única verdade).
E é necessário ir além. E é necessário ir aos extremos da carne e da mente para que seja revelada a natureza do ser. E a grandiosidade do homem apenas pode ser revelada nos extremos, seja da escuridão, seja da luz. É quando o contraste entre o homem e o Deus se dissipa, revelando-nos a semelhança que há entre a imensidão do universo e a grandiosidade do ser humano.
É nosso dever perpetuar o equilíbrio das dimensões. Equilíbrio entre cria e criador. Não deixar que nós, as crias, sejamos ridicularizadas. Não deixar que a nossa importância seja esquecida, camuflada. Somos seres espetaculares, com certeza. Somos engrenagem do delicado universo. Combustível.
Jamais nos permitamos interpretar, erroneamente, que a importância da nossa existência nos eleva ao patamar de centro do universo. A vida tem se renovado inúmeras vezes em tempo terreno, em tempo geológico. E nada pode impedir essa ordem de continuar a acontecer, sucessivas vezes. Então, saibamos, que o conjunto, Deus, é infinitamente maior.
Eu não tive a honra de ser um ser castigado e, se a tivesse, não saberia dizer se seria capaz de alcançar a luz -ou pelo menos vencer a tormenta. Pois é "sorte boa" aquele que, mesmo desgraça após desgraça; pestes após pestes; pragas após pragas; trevas após trevas; "sorte boa" permanece. E, no mundo do sujeito que alcançou a luz, tudo o que imagina "existe, tem e é".

---Inspirado pela mente de Estamira---

Sem título

Acredito na dinâmica
da divina imensidão.
Nas leis
de ação e reação.
Acredito no tempo,
Deus da inquietação,
que tira o sossego
das mentes pensantes,
dos loucos errantes
dos homens de fé.


Acredito no equilíbrio.
No vai e vem,
no elástico.
No zig-zag,
no plástico.
Na entalpia e na entropia,
na ordem do caos,
no caos da ordem.


Acredito no que não me é permitido
ver e tocar.
Apenas sinto -quanto a isso
não há restrições.
Acredito na minha ingênua fé,
como a que têm as crianças.
Acredito na ordem e na desordem
-meu aconchego-
que me confortam,
que zelam a sorte.


Acredito no potencial das palavras
quando carregadas de intenções.
Na desordem do poema rebelde,
que oferece ordem no pensar.
Na desordem do poema
que ilumina um ser.






Obrigado, minha irmã, pela alegria e inspiração no momento. Você gerou uma fagulha aqui no interior do conduto lacrimal.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

3 X 1

Dos quatro elementos
não sou o seu fogo,
nem o seu ar,
nem a sua água.
Sou a sua terra,
sua rocha,
seu continente,
ao qual atracas
quando estás carente.
Você sempre acaba, de supetão,
no vácuo da minha mente,
sem massa e sem atrito.
És a minha ardente
chama os meus escritos
de fogo, água e ar:
Você é o meu fogo, a minha água, o meu ar
e cacos de vidro.
Mas nunca a minha terra.
E o resultado final é 3 X 1,
para mim ou para você...
Vai saber.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sem título

Ainda,
da pancada no rosto,
sinto o gosto de sangue.
Do meu sangue
que chora para dentro.
E eu engulo.
E eu estanco.
E toda vez que sentir o ferro e o sal
de sangue e lágrimas,
saberei que venci,
pois os engoli.