Sedimento fino

Sou argila,
sedimento fino em suspensão.
Toda intempérie me carrega.
Parte de mim é erosão.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Sem título

Enquanto chove,
enquanto é dia, enquanto é noite,
enquanto a vida passa,
eu faço o que sei fazer de melhor:
Nada.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Sem título

Descendo a ladeira,
à margem, à beira,
foi que sofri
o que posso chamar de
o atentado mais terrível
contra mim.
E foi descendo esta ladeira
que encontrei a salvação,
a maravilhosa prova
de que sou um miserável de sorte.

sábado, 18 de outubro de 2014

Sem título

Aquele amor tinha a envergadura de um
grande pássaro predador,
que me apanhou e me levou para muito alto,
para longe da terra.
E todos precisamos da terra.
Todos precisamos de chão.
Aquele amor fora uma grande frustração
- e ainda é.
É como a obra de uma vida,
uma obra inacabada,
uma desgraça para o artista,
para o inventor,
para o poeta.
Foi uma grande frustração
não ter completado a minha obra.
Uma grande frustração não tê-la completado,
não fazê-la completa.

sábado, 11 de outubro de 2014

Sem título

Seja naturalista com a vida.
Tão naturalista quanto um dia de fúria.
Seja naturalista com uma mulher.
Tão naturalista quanto um dia de nudismo.
Seja naturalista com a sua inteligência.
Tão naturalista quanto um dia sem igreja.
Seja naturalista consigo mesmo.
Seja natural.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Sem título

Olha bem pra essa janela!
Olha bem por essa janela!
Olha ao redor deste lugar!
Olha tudo pela última vez,
pois nunca mais pisará os pés aqui novamente!
E assim o homem sem lar, de coração partido,
e ainda apaixonado,
voltou lá no dia seguinte.
E no seguinte.


Até que não voltou mais.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Sem título

Encontrar o canal da fumaça
é fluir para um leve estado de espírito,
pacífico,
tal qual faz a água,
mãe sábia,
que drena pela terra.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Sem título

Não tenho o dom de ser contemporâneo.
Quem sabe, poderia ser passado.
Mas, o passado passou.
Poderia ser futuro.
Mas, o futuro é uma ilusão
e sempre se revela contemporâneo.
E quando o tempo voltar como um elástico
prefiro nem estar por aqui.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Sem título

As suas mulheres ele amou.
Os seus amores ele sofreu.
E a vida é de amar e sofrer
cumulativamente.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Sem título

Nós esperamos pelo seu fim e
o mundo não acabou.
Nós bem que esperamos que não acabasse
e, no final, não acabou.
Mas, queríamos que acabasse
para que acabássemos juntos.
Mas, juntos acabamos
o acabamento do nosso fim.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Sem título

Pra quê querer ser eterno,
viver, morrer, estudar, trabalhar,
bem ou mal, céu ou inferno?
Cativos do homem,
cativos do espírito,
somos todos escravos na existência,
espectro do agora.
Pra quê querer continuar em algum lugar,
migrar de canto pra canto,
provar do mel, provar do fel?
Dentre as coisas do todo,
a liberdade está no nada
ou no livre arbítrio?
Existo,
logo não há fuga?
Não há como fugir
da ditadura do existir.

sábado, 14 de junho de 2014

Sem título

As estribeiras foi o que eu perdi.
E, a cada dia, meus olhos precisam construir
um novo céu pra contemplação.
As estribeiras perdi, mas,
ganho um novo amor a cada dia
e após cada tempestade.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Sem título

Onde você sentiu, linda?
Onde você sentiu linda?
Por dentro ou por fora?
Por dentro?
Perfurante?
Entrou pelos olhos?
As palavras podem ser perfurantes
ou superficiais.
Superficiais, incapazes
de entrar pelos olhos
e fundir duas almas.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Sem título

Quem somos nós,
pra guiarmos nossas próprias vidas?
E o que é o livre arbítrio,
senão uma corda no pescoço?
Hei de atirar-me no mar, deixar-me levar
pelas correntes,
para junto das criaturas marinhas,
-eu e minha corda-
para com elas viver.

Sem título

Aos pouquinhos, a gente vai
caminhando, a gente vai
exorcizando o mal
que autocoroou-se rei do caos.
Esses são os passos de um exausto,
moribundo, terminal,
contra o espiritual dilema
do bem e do mal.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Sem título

Uma doença que circula com o sangue,
nas veias.
Infecção da hemoglobina,
da pele.
Sob a pele corre e fita. Serpente.
E fita e tange e domina... E cresce.
Tange por dentro, nunca por fora.
É por dentro, lá dentro, nas veias,
e subcutâneo.
Não dá pra rasgar
e arrancar esse mal
de dentro de mim.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Sem título

Não existem últimos
e nem existem primeiros,
mas, o trânsito.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Sem título

Qualquer mundo,
por menor que seja,
tem sua infinitude.
Isso não significa
que uma pessoa deva perder-se
em uma única imensidão.
Colecionar imensidões
faz bem pra alma.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Sem título

Reclina tua cabeça,
que eu cafunezeio-te os cabelos!
Diz-me a cor dos teus olhos cacheados!
Acolhe-me nesse sorriso castanho!
Mostre-me a saliência dos teus dentes!
Que dentes!
Linda!

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Sem título

Eu gosto de você.
Como eu gosto de você!
Como eu invento sempre
uma nova e velha birra,
uma briga! Porque eu gosto,
gosto muito de você.
Como eu ainda descubro universos
por baixo da sua roupa moderna!
Como eu sou tolo quando,
sem necessidade,
invento um banho de mar,
quando deveria ser banho de chuva!

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Sem título

Vivendo, cheguei e estou localizado em um momento no qual não mais me envolvo com temas específicos. Não me especializo mais. Pelo menos, evito discussões nas quais eu tenha que pertencer a polígono qualquer. Eu busco não pertencer a qualquer limitação de pensamento, não pertencer a qualquer perímetro intelectual, não pertencer a nada que seja menos que três dimensões. No que diz respeito à espécie humana (um tema já relativamente específico, levando-se em consideração a complexidade do universo), prefiro refletir da forma mais basal possível, tratando o ser humano como um ser tão comum quanto um leão ou um chimpanzé. Acontece que eventos favoráveis ao desenvolvimento excêntrico do nosso cérebro aconteceram, dando-nos uma arma biológica que representa perigo e, ao mesmo tempo, a nossa salvação. Que outro animal seria capaz de construir uma arca da fuga? No meio do caminho da humanidade, onde encontramo-nos todos, o ser humano, homem e mulher, tem um hábito natural de setorizar as coisas, criar temáticas e especializar-se nelas, o que é tão natural quanto num formigueiro. Mas, qual seria mesmo a diferença entre a humanidade e um formigueiro? Ambos sistemas são elementos da natureza terrena (da Terra), sub-microssistemas do universo. E, assim, na humanidade fala-se em política, religião, ciência, minorias, oprimidos versus opressores e vice-versa, diferenças étnicas e culturais, diferenças de gênero (que não são as mesmas diferenças entre homem e mulher)... Enfim, diferenças. Então, a partir das diferenças o ser humano, homem e/ou mulher, vai dividindo o trabalho dentro do que chamamos de sociedade, que costuma bailar numa corda bamba. E, assim como as formigas vivem para assegurar a existência do formigueiro, nós vivemos para assegurar a existência da humanidade. E todos nós, humanos, formigas, leões, chimpanzés, vivemos para assegurar a nossa própria sobrevivência e a sobrevivência da espécie. Dividindo o trabalho, os humanos discutem ciência, religião, política, diferenças... Diferenças, os humanos discutem diferenças. E assim, com passos de formiga evolui a humanidade. Só que eu prefiro caminhar com passos mais largos, acreditando que raciocinando tridimensionalmente - e não dentro de um polígono - possamos encontrar um atalho no caminho da evolução. Acredito que esse atalho resida na busca pela igualdade, ao contrário da busca aparentemente desorientada e caótica pelas diferenças. E, tão pura e simplesmente, a igualdade é possível através do sentimento mais básico que existe: O amor. Onde, a partir do qual, há ramificações que, enfatizadas através de diversos momentos da nossa história, por humanos de muita iluminação, representam a salvação do nosso formigueiro.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Sem título

No teu quarto, no teu quarto,
onde o tempo passa
misterioso...
No teu quarto, ao teu quarto
abraçado.
No teu quarto, abraçado.
No teu quarto, abraçado,
preso a ti.
Como o tempo é engraçado aí.
Como o tempo passa
e não passa
no teu quarto.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Sem título

Quem é ela,
que fragmentou a própria alma
em tantas partes?
Quem é ela,
que habita tantos corpos
e me desafia?
Eu, que mantive a unidade,
agora sofro pra juntar os seus pedaços
porque a amo por inteira.

Sem título

Em que momento da eternidade eu te conheci?
Quando foi que a trama foi tecida?
O que governa a existência e a vida?
Quantas vidas devemos esperar?
A vida é sensível como a existência,
cada uma em seu plano.
E se tudo já aconteceu?
Os sonhos são uma fresta
que podem desbotar a dúvida.
Logo, a curiosidade é burra,
pois eu sou a fé e o futuro já passou.
Então, finjo surpresa
na festa da curiosidade.
E o amor é o laço incompreendido,
algoz dos que amam
e desdobram o espectro do tempo.
O amor dilui a vida
e preenche a existência.
Sendo assim, eu espero
tantas vidas quanto a minha existência
me permita te amar.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Sem título

Quanta violência com quem tem pouca luz!
Quanta opressão por parte do oprimido!
Quanta intolerância com o oposto! Ele não é um antagonista.
Quanta vingança!
Quanta falta de sabedoria.
Quanta guerra. Desnecessário. Somos todos iguais.
Somos todos um tapete de vida na Terra.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Alvorada

A invasão do dia sobre a noite:
As nuvens dissolvem-se vermelhas
com o avanço da cavalaria de luz.
Algumas resistem rosadas, aguerridas,
mas, já é cedo demais
e vem aí o Sol. E a Lua,
escondida na poeira,
não pode fazer mais nada. Assiste tudo
na solidão, com a promessa de que voltará.
As nuvens convertidas
queimam em fogo amarelo
no campo de batalha já azul.
As desertoras repousam cinzentas
sobre os morros
cobrindo suas costas desnudas.
E o astro rei é imponente
mesmo com as barreiras de algodões:
Elas passam e ele fica
até a re-volta da Lua.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Sem título

Lamentar por certas coisas que não posso ter,
por mais difícil que seja crer,
faz-me chorar
e sofrer tão profundamente
e, apenas por essa razão,
alcançar e apanhar
o sentimento oculto
tão humanamente escondido
no canto divino quase inacessível do universo.
Lamentar por certas coisas que não posso ter
faz-me lembrar
que o sentimento escondido é o maior
de todos os fenômenos.

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Sem título

Pérolas são cicatrizes,
lembranças de um mundo perigoso
que cerca o meu castelo.
Às vezes, uma flecha vem do ermo,
penetra a fortaleza por uma fresta
e cicatrizo-a na forma de uma
dolorosa e linda história de amor.
No fim, todas as flechas
acabam em pontas de sílex
envolvidas por amor de brilho nacarado.