Sedimento fino

Sou argila,
sedimento fino em suspensão.
Toda intempérie me carrega.
Parte de mim é erosão.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sem título

Já fui retirado de casa uma vez,
arrancado, violentamente,
como um animal.
Enjaulado, arrastado pelas terras estranhamente
verdes, férteis, quentes,
porém, secas, inóspitas e pedregosas do desperdício.
E atearam fogo na minha querida cidade,
Onde tudo queimou.
E nem assim olhei pra trás.
Jamais olhei pra trás,
até ser expulso da jaula
com a mesma violência a qual fui capturado.
E, quando me deparei com a realidade da
natureza do lugar o qual estive todo o tempo,
vi apenas ausência de cor, secura e pedras roladas.
Hoje, após ter regressado à minha pequena cidade,
e resgatado das cinzas as lembranças,
percebo o intervalo
entre ser posto numa jaula, violentamente,
e entrar numa jaula como voluntário.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Sem título

Vão no tempo.
Vão-se as palavras
pelo vão da estabilidade.
E o equilíbrio reside no momento
de um buraco de minhoca,
viajando em seu interior,
no conforto de uma rede.





Talvez, o hiato de palavras seja explicado nas palavras acima. No presente momento, sou menos palavras.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Sem título

Algumas vezes, sinto que sou
capaz de voar,
de elevar a espiritualidade,
de me encontrar
com minha forma original.
Mas a humanidade
puxa pelos pés.
São lampejos,
novos continentes
que me dão a certeza
de que todos somos
capazes de cruzar os ventos.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Sem título

A vida é um fio imaginário,
tenaz, mas ainda um fio.
Um risco constante.
Enquanto tudo estiver bem,
tudo permanece risco.
Tudo permanece fio.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Reflexão

Quando nos distanciamos de nós mesmos, nos sujeitamos às influências do universo e do mundo. Quando distantes de nós mesmos, ou seja, quando nos exteriorizamos demais, e por muito tempo, nos sujeitamos aos desvios no caminho, o que resulta em crise de identidade, desvios de caráter, de personalidade. No domínio externo (de nós mesmos) tudo pode acontecer e o fim pode ser qualquer. O corpo se abre para a maldade, para a insanidade, para a ignorância, para a incoerência, para a injustiça, para o desequilíbrio. A reflexão e a interiorização constituem um caminho para a paz, para a harmonia e para o equilíbrio com o universo e com o mundo no qual vivemos. Sendo assim, a nossa consciência é o nosso Deus, nosso Deus interior, que também pode ser o Deus punidor dos nossos "pecados pessoais". Sim, o pecado é pessoal e particular. Um "pecado pessoal" é particular pois o que pode ser pecado para um indivíduo, pode não ser para outro. Um "pecado pessoal" está diretamente relacionado com a consciência, que é o que difere um indivíduo de outro, no fim das contas. O que constrói cada consciência é vivência. E interiorização. Um "pecado pessoal" é um desvio, um deslize ou um tropeço (do interior), seguido de um retorno. A persistência nos domínios externos (domínios de vulnerabilidade) e uma consciente permanência nesses domínios, constitui um "pecado pessoal". E uma consequente punição é produto gerado, exclusivamente, por nós mesmos. Conclusão: Nós construímos o pecado. E somos responsáveis por nossas punições.

sábado, 17 de setembro de 2011

Os estados físicos do tempo

Tudo o que se vive
é o futuro
se transformando em passado.
E o futuro,
que se transforma em passado,
é sublimação.

Ser água é como parar no tempo.
É o sublime momento
que se vive
e chamamos de presente.

Ser água é congelar o tempo.
E congelar o tempo
é pra quem pode amar.
É pra quem pode condensar
vapores de memória
e solidificar o futuro.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sem título

Como você combina com o dourado do entardecer,
com minha pele marrom,
com os feixes de luz nos cabelos,
comigo!
E com esse sorriso que integra tua face.
Como não preservar
a beleza que me preenche?
Como não querer
entardecer junto a você?
E como não querer
enoitecer tuas pernas,
enoitecer em você?
E que em cada novo zero
nos refaçamos
com a surgente manhã.

domingo, 28 de agosto de 2011

Te amo, que amadurece e cai

Água e nutrientes
alimentam minhas raízes.
Luz, do sol e da lua,
chuva e vento atuam em minha folhagem.
Passam estações,
Passa o tempo de viagem.
Sinto crescerem os frutos
e os vou adoçando,
cedendo para eles
parte do que me nutre.
E como crescem os frutos!
Dia após dia,
do verde ao rubro.
A polpa pesa e, para baixo, com gravidade exige...
...Te amo! Gravemente.
E servirá de alimento
para a próxima estação,
quando disperso no solo,
o meu amor
passará outra vez,
capturado pelas minhas raízes,
pelo meu tronco até meus cabelos.
Gerará frutos e, mais uma vez,
amadurecerá
e cairá em te amo.

Sem título

Hoje você vive a minha vida.
Aquela vida que eu vivia
quando só sabia te querer
e você não me queria.
Você sabia o que não queria
mesmo sem saber o que sentia.
Você não queria o que sentia
mesmo sem querer o que não entendia.

Ah, o que uma confusão,
uma dúvida,
ainda que sem sentido,
sem explicação
para uma mente dominada por cinzas,
cinzas pretas do certo de ontem,
que se desmancham e mancham os dedos...
Ah, o que uma dúvida pode fazer
com o destino do universo.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sobre humanos e pombos

Orgulho-me de mim mesmo quando lembro de certas viagens de infância: Raciocínios e fantasias possíveis, já nessa fase do desenvolvimento de um indivíduo humano. O que quero dizer com isso pode ser melhor explicado através de um exemplo. Então, lá vai um pequeno relato, inclusive, contado e interpretado por um "eU", sobre um "Eu" de outrora.

Sempre fui muito indagador a respeito do que me desse na telha ser. Lembro de me perguntar o porquê dos pombos serem tão difíceis de capturar, embora sejam mais lentos em relação a pássaros mais leves e ágeis como os pardais e os colibris. Porém, em relação às galinhas, há uma vantagem: Os pombos voam. Mas, nem mesmo as galinhas são fáceis de capturar, mesmo tendo essas aves ossos tão cheios de tutano. E mais imoportante ainda, por quê capturar esses animais? Mas por quê?

Enfim... "Eu" não questionava algo, aparentemente tão sem sentido, em vão. "eU" busco explicação no comportamento humano para tentar responder os meus guris questionamentos. Penso que as crianças conseguem agir ainda mais institivamente cruas que os adultos, refletindo muito da essência da nossa espécie e muito da necessidade da mesma em reinar no mundo dos animais. Um reflexo nítido dessa necessidade de reinar é um grupo de crianças brincarem de tentar capturar pombos. Da bricadeira, saem até manifestações interessantes da nossa capacidade intelectual, como desenvolver métodos mirabolantes de captura com utilização de armadilhas improvisadas de acordo com o que se tivesse à mão. Muitas vezes (quase sempre), não possuíamos nada à mão. Nenhum recurso. Nenhuma logísica. Nem mesmo planejamento. Simplesmente corria-se atrás dos pombos na tentativa de alcançá-los e capturá-los com as próprias mãos. Lembro que alguém chegou, certa vez, com a brilhante idéia de embolar uma camisa ou um pedaço de pano qualquer e atirar sobre o pombo, capturando-o, como faz uma rede mágica concedida pelo Mestre dos Magos. Acho interessante a idéia de embolar a camisa, pois assim diminui-se a área de contato e o atrito, numa manobra onde a camisa, embolada, ganha velocidade até abrir como uma rede inteligente bem em cima do animal a ser capturado.

Mas, o que significa a tentativa de capturar um pombo? Era o que "Eu" me perguntava. Por que todas as crianças queriam tanto apanhar pombos? Tomando como base a minha mente guri, naquela época, "Eu" tinha a intenção de capturá-los -sim, eu também entrava na onda, não sou hipócrita- apenas pela emoção de capturar algo tão fugidio, apenas pelo desafio e, logo após a captura (que, por sinal, não recordo de ter presenciado, nem de ter realizado) soltá-los. Isso é o que "eU", hoje, explico, com meus anos e minhas palavras. E digo mais: É um bom reflexo da natureza humana de tentar dominar todo aquele indivíduo do mundo animal que tenha um atributo evolutivo que, de alguma forma, ofereça risco. O atributo evolutivo dos pombos é a capacidade de voar. E o risco que isso oferece, eu procuro acreditar que resida em algum lugar do nosso DNA.

Os pombos estão entre nós, como ratos alados. Às vezes, até esquecem que sabem voar. Ontem vi dois meninos tentando capturar um pombo que, ou esqueceu que sabe voar ou simplesmente encarou os meninos como "manda vir, nem preciso usar as mãos" -ou melhor, asas.

Esses seres, para mim, tornam evidente o limite da incapacidade do ser humano. Eles chegam tão próximos a nós, nos dão a ilusão de que podemos apanhá-los, quando, na verdade, são escorregadios feito quiabo. Acredito que essa ilusão é gerada pelo fato de observarmos outras aves, menores e menos desengonçadas, aparentando ter mais intimidade e destreza com o vôo.

Pois é, os pombos desenvolveram asas e capacidade de voar. Possuem uma anatomia com aerodinâmica favorável ao vôo. E nós, humanos, copiamos. Desenvolvemos foguetes, aviões, balões, pipas... Tem gente até que se atira de edifícios acreditando ser o Superman. Estamos sempre tentando fazer melhor que os pombos, como um lamento por não possuir asas.

domingo, 14 de agosto de 2011

Sem título

Por você, que recebe tão pouco
e acha que é tão muito.
Por você, que é humilde,
que não vê sacrifício no sacrifício.
Esquivo, desta vez, do egoísmo de meus poemas
e ofereço pão e água,
sinceridade e transparência,
alimento.
Você, que também me alimenta,
de fascínio e beleza,
me lembrou que valem a pena os riscos.
Você me enche de orgulho.

Sem título

Você, meu irmão, verá
como a vida é dinâmica.
Perceberá como somos tão mutantes.
Você verá (muitas coisas).
Será plural.
Então, apenas viva.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sem título

Eu sou um rio fluindo em você
-você-pedra- e sigo até o mar.
E eu deságuo, obviamente, em você-mar.
Mas você é todo o curso,
da nascente até a foz.
Curso sem cachoeira,
sem o beijo cascata em você-pedra.

O primeiro beijo cascata
do rio em pedra,
na verdade,
parece não ocorrer
-pela altura da cachoeira
ou porque a água evapora antes do toque.

Fui cascata em você pra quê?
Pra me enrolar?
Pra afluir mais rio e não te fluir?
Pra meandrar sem fim após a queda
-sem jamais desaguar?

Água vem das montanhas, das nascentes,
e eu-lago, logo cavo, cavo,
para não transbordar.
Difícil não transbordar.
Difícil não fluir.
Difícil ser lago.
Difícil ser rio.
Difícil.

Sem título

Preciso combinar palavras,
traduzir sentimentos,
viver você, viver nós dois,
sentir
para poder transformar.
Preciso do seu amor e do meu amor,
de nós enraizados e emaranhados...
Entrelaçados, nos perdendo em nós mesmos,
nos encontrando perdidos,
nos sentindo muito bem encontrados,
perdidamente,
nas duas verdades.

Sem título

Para que você veja
a beleza que vêem meus olhos: a tua beleza,
eu preciso ser preciso.
Dar asas aos sentimentos,
torná-los palavras.

Não posso te dar meus olhos,
mas posso te dar minha visão
-de diferentes ângulos, vejo beleza em todos.
Posso cantar tua beleza em meus poemas...
Eu preciso ser preciso.


Ao longo do que chamamos de tempo,
infinitamente,
ao longo da existência,
da presença,
dos efeitos em minha mente,
em meus olhos... Você se manifesta.

E o resultado disso é lindo,
uma lei e um juramento.
Lei orgânica do meu organismo
e, se não compartilho, morre comigo,
sem efeito no universo,
sem função.

Descompasso

Nossos tempos.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Chamado à minha terra

Me sinto como se devesse
cantar à minha terra.
Cantar como se canta às plantas,
com luz, água e minerais.
A terra só chama quando se está disposto a ir.
Hoje a minha terra me chamou
para que eu possa cantá-la.
Ainda cantarei a minha terra:
Rios de saudades caudalosas;
Corredeiras de ânsias a desabar em cataratas;
Cachoeiras de vida.
Assim cantarei, desaguando, mas em continente.
Afluente da minha terra,
alimentando raízes, galhos e folhas.
Serei polpa.
Fruto e sementes.
E minha poesia, nutrientes.

sábado, 30 de julho de 2011

Dipolar

Se damos certo,
é porque eu sei receber o que tens a dar
e dou-te o que necessitas ganhar.
É porque sabes receber o que tenho a dar
e dá-me o que necessito ganhar.
E assim a roda gira viva
em nosso mundo covalente.

Amor: Sentimento egoísta?

Muitos tentam explicar o amor. Muitos emitem seus pontos de vista a respeito desse sentimento. Mas há um ponto de vista, o qual não concordo, que fataliza o amor como egoísta. Convenhamos que, quando se está amando, o corpo produz algumas substâncias, hormônios, que provocam sensação de prazer. Talvez, querer sentir prazer seja egoísta. Porém, a sensação do prazer é uma consequência do amor. Tenho isso como um mecanismo da natureza para garantir a perpetuação da espécie. Imaginemos, se o sexo não proporcionasse prazer, a perpetuação da espécie estaria comprometida, de certa forma. Haveria riscos palpáveis a perpetuação. E se não houvesse prazer na alimentação? E a degustação? Para os mais sensíveis, e se não fosse prazeroso sentir o ar a cada preencher dos pulmões? O fato de possuirmos órgãos sensoriais e de sentirmos prazer para algumas coisas e para outras não... Para outras, dor... O fato de sentirmos o doce, o salgado, o amargo e o azedo... O fato da existência dos sabores... Tudo isso são mecanismos utilizados pela natureza para que haja harmonia no universo.
Voltando ao amor, sentimento divino, o meu ponto de vista dita que, se a natureza não tratasse de espalhar esse sentimento no mundo biótico e se, principalmente, não tratasse de atribuir determinados efeitos colaterias a esse sentimento, não seria tão interessante aos indivíduos amar. Amar o próximo. O próximo amar. Amar e sentir prazer por isso. Amar uma mulher... Haver reciprocidade e, então, conexão. Então, não é egoísta amar. É consequente o prazer que se sente ao amar. A natureza que encontrou uma maneira de tornar o amor viciante. E, se cada indivíduo quiser ser um pouco "egoísta", estaremos todos amando, uns aos outros.

Sem título

Eu quero é sentir a segurança
de um bebê ao cheirar o leite materno,
ao sentir o calor no seio da mãe.
Eu quero é conhecer o chão
como o conhece o bebê que engatinhou antes de andar.
E não terei medo de cair.
E que esse bebê cresça forte e saudável.
E que sua mãe seja uma guerreira inabalável.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Sem título

Saudade enjaula, contém.
Esmaga sem dó, oprime a fera.
Sem lá e sem cá,
não se alia a ninguém.
Adensa e comprime: Bombificação.
E no peito de quem entende de excessos
encontra uma morada aconchegante.
E murmura e palpita e faz palpitar...
A saudade só cumpre a sua função.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

38 dias de saudade

Ah, a saudade é algo que já se sente antes de zarpar
assim como o amor se sente antes de aportar
e como se crispa antes de gemer.
Houve um tempo em que a distância foi presente
-e um presente.
A presença, mais que presente, saudade latente sobre meu ombro.
Quem entende? E pra quê?
Sinto saudade. Agora, a saudade da ilha a qual aportei -e que zarpei.
(Raios! Não sou marinheiro!)
Saudade do cisalhamento sobre o rabisco,
sobre a maciez epitelial.
Saudade do bom funcionamento dos sentidos.
Ah, meus sensores em festa!
Sinto saudade da peça e do seu encaixe perfeito,
da face apaixonada e daquele olhar.
Olha! O meu navio voador, da saudade e do amor, vai te buscar.
Esteja pronta, se aprume.
Quero te dar mais que camisa. Mais que tudo.
Não nasci pra ser caminhoneiro.
Por ora, aguardo da presença um presente
da semente que plantei em solos atrás.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Harmonia em tempo

Um menino sentado na pedra, mirando o horizonte.
Do relevo dissecado e pelos vales a serpentear,
o olhar percorre a superfície coberta pela mata lenhosa.
Um homem sentado na pedra, mirando o horizonte.
As cascatas aguando as paredes e as rochas cobertas de limo.
A mata lenhosa já não é a mesma. O limo já não é o mesmo.
Um velho sentado na pedra, mirando o horizonte.
A mata, o limo, o menino... Nem a pedra, o vale, a cascata, o horizonte...
Mas a mata, o limo, o menino, se mostram passantes.
E a pedra, o vale, a cascata, o horizonte, perenes,
enquanto estrelas e planetas morrem lá fora.
Enquanto o brilho fantasma vem nos assombrar,
a pedra, o vale, a cascata, o horizonte
não são mais os mesmos.
E o menino, o homem e o velho alcançam a harmonia dentro de seu tempo.

GeoCronos

Coisa linda de se ver
é o tempo quebrando os rochedos.
Os rochedos quebrando com o tempo.
Os rochedos quebrando o tempo.
E o tempo quebrando nos rochedos.
Pois é, coisa linda de se "ver".

Receituário de um perdido no quando

Tomai um comprimido de tempo, diariamente.
O esperado é que a tua mente dilate, aos poucos.
A dose é diária. O exércício também.
O processo é lento e o efeito não é garantido.
Agora, tomai um xarope de diluído de tempo, diariamente.
Aguarda a contração da mente, apertando, aos poucos, as sinapses.
A dose é diária -mas o que é um "diário"?
O processo é lento -"lento"?
Sabe-se de coisas que moram no tempo, um momento...
Após dilatar e contrair a mente,
com os comprimidos e os diluídos, respectivamente,
se o paciente não sente, vai viver eternamente
enrolado na teia do monstro.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O tempo

Ser Senhor do tempo é para poucos.
Para poucos.
Domínio de si mesmo,
das emoções.
Domínio do eu e do outro.
Apartar-se.
Abster-se.
Congelar o coração.
Ver o tempo passar.
Ver a chama queimar toda a cera,
todo o pavio,
tal qual dominador das horas.

O tempo não é encontradiço.
É traiçoeiro.
A hora pode ser dia,
segundo pode ser minuto.
Balbúrdia e anarquia,
à medida que chegamos mais perto,
no buraco que tanto mais cresce
quanto mais pensamos.
Quem me dera abraçar a humanidade
como faz o tempo -nosso deus.
Nosso deus inventado.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sem título

Pois é, esse sou eu:
O vilão, a cólera.
Então, não se preocupe.
Não se culpe
nem se desculpe.
O excessivo sou eu,
que entorno você.
Sou assim.
Então, não sinta o inflamável enjôo de mim.

Sem título

O que seria, então, a certeza da finitude
que reside em mim?
Uma portinhola?
Um limite?
Um intervalo de tempo
em que estaríamos
na companhia um do outro?
E só?
Um curto momento
que, como todos, sempre,
teria o seu fim.
Porém, eu seria incompleto.

Sem título

Há uma necessidade de cantar-te, celebrar-te.
Cantar teu nome, celebrar tua existência,
mi namorads frenands.
Cantar-te, celebrar-te...
Na permanência indigna de um trauma surdo,
que ecoe a minha canção,
propagação de palavras
no espaço das ondas.
E que aceites, enfim, a celebração.

sábado, 18 de junho de 2011

Identificação

Pela primeira vez, algo que não é meu. Mas a identificação é tamanha que é como se eu tivesse escrito.


A essência da poesia...

...“É descrever o que se sente verdadeiramente, a cada instante da existência. Não acredito num sistema poético, numa organização poética. Irei mais longe: não creio nas escolas, nem no Simbolismo, nem no Realismo, nem no Surrealismo. Sou absolutamente desligado dos rótulos que se colocam nos produtos. Gosto dos produtos, não dos rótulos”.

(Ricardo Eliecer Naftali Reyes y Basoalto)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Mundos paralelos, emparelhados, para alheios

Não te preocupes.
Pois o mundo em que vivo não é este.
É aquele outro,
que você nunca ouviu falar.
Vivo num mundo meu,
onde sou o rei, o servo,
o palhaço, o alfaiate,
o general e o soldado.
Nada do meu mundo
coincide com este.
Então, não te preocupes.
Pois eu,
rei, servo,
palhaço, alfaiate,
general e soldado,
jamais governarei, servirei,
brincarei, costurarei,
ordenarei e combaterei
neste mundo real,
onde se faz tudo isso de verdade.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Salve a noite, menina lua!

Na noite do dia em que nada acontece,
ratos conversam enquanto a chuva cai,
chuva cai enquanto os ratos conversam.
E a lua? Cadê?
Vai ver se cansou. Tirou férias. Fez greve...
Vou pedir, então, a menina que sonha em ser lua
para assumir o seu lugar,
pois não é para qualquer uma
o ofício de satélite natural.
É, ela sabe bem ser lua.
E acho que acabo de salvar
todos os amantes, trovadores, cancioneiros,
bem como os vampiros e morcegos,
bem como os ratos fofoqueiros.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ciclo de mim

Mais uma vez quase no zero,
no meu eu,
no meu íntimo.
Quase na forma como cheguei:
Quase natural. Quase desapegado.
Quase.

Correspondência amarela

Uma grande surpresa.
Só não sei o que fazer
com esses papéis colados,
um lápis amarelo
e um cílio no fundo do envelope.
A razão dana-se em indagação.
Mas o estalo é amigo da emoção.
E a emoção não pede explicação.
Esse é o grande segredo:
Não importa a correspondência,
se decência ou indecência.
O que importa mesmo
é a besta amarela
numa latitude acima de mim.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sem título

Desenhados na superfície,
na fôrma, na forma,
na lata, na chapa...
Ruídos da ineficácia
do abre alas da epiderme
e cadeado de alma
cuja chave é o tempo.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O tempo

A maior ilusão de todas é o tempo.
A sua sensação
é a maior peça já pregada no ser humano.
Não existe o tempo.
Esqueça passado, presente e futuro.
O que existe
é algo como a interação dos três:
Tudo acontece.
O que existe
é uma intercalação, um ritmito,
de ora instante, ora sempre,
ora ponto, ora imensidão,
que conta a história do universo.

Coração amarelo bufado

Você me mostra esse teu coração amarelo
e meu mundo fica roxo
de abraço esmigalhante.
Aperto triturante,
rosto com rosto
e superfície cisalhante.
Você me mostra esse teu coração amarelo
e retornam as cores da alegria.
Essa é a resposta à xantopsia.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sem título

Olha, vou te dizer...
Eu quase não tenho inteligência emocional.
Não sei lidar com muita coisa.
Sou burro e impulsivo.
Precipitado.
Faço as coisas de coração.
Nem sempre da maneira correta.
Mas de coração.
Mas eu só tô falando de mim,
independente de qualquer coisa.

E cada um tem o seu tempo.
Sou lento em quase tudo.
Sou muito do resultado
da dinâmica do universo.
Não me arrisco a dizer
que sou isso ou aquilo,
que sou assim ou assado.
Tudo depende muito.
Tudo sempre depende.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Sem título

Respeite o vento, em alto mar.
É ele quem conduz tua caravela.
Respeite a água, salgada ou não.
É sobre ela que você navegará.
É a água o que há
entre você e o fundo.
É o vento o que há
entre você e as estrelas do céu-tela.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Convergir

A fim de participar de um concurso literário, fiz algumas alterações em um de meus poemas.
O resultado, postarei aqui. E, para conferir o original, no link a seguir: http://gabrielalem.blogspot.com/2011/02/sem-titulo_25.html.

Então, segue a alteração, com título e tudo o mais:


Convergir

Era um abismo
entre o utópico e o palpável:
Braços abertos sem contato.
Entre a minha palma e a tua face,
uma superfície:
O toque.
Entre a minha palma e a tua face,
surge, então, uma zona que cisalha:
Afago.
Entre mim e você,
a distância se desfaz:
Enfim,
não mais dois extremos inalcançáveis.
Até os meus e os seus braços
o nosso mundo se refaz
unidos em um abraço.



Os devidos créditos à Carlinha (C.V.).

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Sem título

Na maciez da sua pele.
Na mão singela
que outrora deslizei minha palma.
Jazem os restos murchos e podres
das flores
que supriam a minha alma.

Na mais pura ternura.
Nos mais doces afagos.
Nos mais quentes abraços...
Ah, me doei [dói] a amargura
quando alheio aos seus passos.


--algo lá de trás e só postado agora--

Sem título

Agradeço ao mundo
pelas voltas que ele dá.
Agradeço aos movimentos
de rotação e translação.
Agradeço ao universo
por estar em expansão.

Sem título

Foi aberta uma passagem até a lua,
como um vale,
por entre as nuvens.
Logo logo ela se fecha
nos domínios do céu noturno,
onde o vento se encarrega
de soprar os caminhos.
Mais um pouco e ela se abre
[a passagem]
lá ou cá.
E quem perdeu pode passar.


Para se chegar até a lua,
siga os caminhos do vento.
Ou, fatalmente,
aguarde o próximo ciclo.
O próximo momento.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Sem título

A minha intenção
não é definir nada, meu bem.
Apenas quero saber
se somos gases, líquidos
ou sólidos a vibrar.
Gostaria de saber
se temos fluidez
ou extrema viscosidade.
Se podemos avançar
num fluxo só nosso.
Independa o estado físico.

Jamais espere isso de mim

Jamais espere que eu mude, em essência.
Jamais espere que eu seja
aquilo que não sou.
Eu sou muito além
do que os seus olhos podem ver.
Sou além do que possa tatear.
A cada unidade de tempo,
fraciono-me mais.
A cada vez em níveis mais superiores.
Mais crustais.
Hoje sou continente evoluído.
Sou fanerozóico.
Em essência, sou pétreo.
Sou rocha cheia de cicatrizes
de aberturas e colagens,
muitas dessas, em superfície,
já erodidas pelas intempéries da vida.
Pois então, não espere que eu mude
a minha alma pétrea
(dúctil, dúctil-rúptil, rúptil-dúctil, rúptil...).
Pétrea.
Eu mudo o meu prospecto,
Mudo de você.

Sem título

Você representa a personificação
da minha grande dívida,
que espero,
enfim,
estar quitada.
Como bom aventureiro,
vou seguindo,
consumindo a vida
para, quem sabe,
endividar-me outra vez.
Mas não com você.
Isso seria o ideal.
E a voz da razão
que jamais tive.

domingo, 22 de maio de 2011

Sem título

Hoje sou pequeno e fraco.
Tenho medo de andar
pelo mundo onde falta a paz.
Tenho medo de cair e machucar.
Mas sei que no final
a minha paz será suprema.
Incontestável.
Plena.
A minha voz,
enfim, será ouvida.
E eu me agigantarei
perante o mundo,
mesmo depois
de tanto ter sangrado
por dentro.
Ah, um dia alcançaremos
a maturidade dos sábios.
-Paciência.
E, no presente tempo,
tudo é latência
de um futuro que esperneia
feito criança.
Mas a sorte é devagar.

sábado, 21 de maio de 2011

Sem título

A poesia que faço é tua.
É teu cavalo de vento
que cruza a corrente,
sem medo,
num dia de agressiva chuva.
É lebre veloz de liberdade
que dança sob a mira
do senhor caçador.
É leve e veloz de verdade,
feita do que vem de dentro.
Com amor.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sem título

Olha, eu sou um obelisco.
Sempre a vista.
Então, não se perca de mim
pois estou aqui,
alto,
estático
e precisando de você.
Olha pra mim
e esquece o labirinto.
Apenas segue.
Segue a agulha, a ponta.
Aponta para mim
e vem
transpondo as paredes
de besteira qualquer.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Depósito de sonhos

Hoje há um bom motivo pra se inspirar:
Olhar pra cima.
Olhar pra cima e ver
um céu do tipo filme de terror,
com lua de fogo
por entre as nuvens.
Olhar pra cima e ver,
no alto, resina nos vapores.
Ver ovo frito no céu.
Tufos malucos insistem
que vivemos numa concha.
Numa cuia. Numa cunha
cuja textura
muda o tempo todo:
Tufos malucos e inconstantes.
Nos fazem de besta.
Algodão doce, coração,
foguete, dragão,
besouro doido,
rostos, monstros,
bichos, ovo frito...
Um verdadeiro depósito de sonhos.

sábado, 14 de maio de 2011

Sem título

Foi-se.
Foice do universo.
Morte da esperança.
Foda-se.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Sem título

Eu conheço uma mulher.
Ela é a rainha de um reino.
Ela tem um dom. Um dom...
De provocar uma reação estranha
nas pessoas que cruza.
Na verdade,
ela vai tecendo alegria...
Como eu disse, é um dom.
Ela não faz por bem
ou por mal.
Faz que nem sente.
Ela vai tecendo alegria,
colorindo, sorrindo,
falando alto...
Feiticeira!
Resgata sorrisos das profundezas,
extrai como mágica
e os deixa na epiderme.
Ela é o fim da latência
dos risos contidos.
Feiticeira. Só pode.
É um dom.
O dom de uma rainha.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Levanta-te!

Eu quero força.
Força para lutar
quando preciso for.
Força para me defender,
em todo momento,
das presas, dos caninos,
dos espinhos, dos venenos,
dos ferrões, dos abraços de urso...
Das mordidas e das patadas
que a vida dá.
Eu quero a couraça
dos guerreiros da natureza.
Quero garras, cornos
e uma mandíbula poderosa.
Agilidade e mimetismo.
O equilíbrio
torna o fraco menos fraco
e o forte mais forte.
Eu peço força
para sair desse equilíbrio.
Eu apanho,
o que me faz cuspir fogo.
Mas acabo percebendo
que cada pancada que recebo
é a resposta ao meu pedido.
Acabo percebendo
que sou privilegiado
por ter a chance de apanhar.
Afinal, cada derrota é uma dádiva.
Perca. E cresça.

sábado, 7 de maio de 2011

Sem título

A Terra é branda.
Tão branda.
A Terra é paz.
Observar a atmosafera,
daqui,
liberta.
Ser pequeno
e contemplar uma imensidão.
Ser humilde.
Cada um fazendo
o seu papel na natureza.
E assim se perpetua a paz.

A luz, força de Deus,
permite a vida.
Na atmosfera,
seu espetáculo é cotidiano.
Liberta. Liberta observar,
daqui,
a aquarela
de nuvens e luzes.
Então,
não apaguem a luz.
E mais vezes
basculem para o alto o seu olhar.

Sem título

Permita. Permita que seja livre a sua beleza. Ela será mais bem recebida pelo perceptor do que a soma que é a vontade de agradar. Cada indivíduo possui uma beleza única que, se poluída pelo que o leva a modificá-la para assim poder agradar alguém, deixará de ser única, deixará de ser original, deixará de ser sua, deixará de ser bela.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Sem título

Meus problemas agora
são problemas futuros.
São amarelos, xantópticos.
São cheios.
São outros cachos.
E, no toque surgente
sobre a fina mão,
amplificam-se.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sem título

Hoje eu seria capaz
de escrever raios e trovões.
Materializá-los no papel.
Seria capaz de inundar tua mente
com toda a água que desabou hoje do céu.
Hoje eu sopraria os vendavais arrasadores,
as tempestades, do sul e do norte.
Limparia a atmosfera com uma borracha.
Abraçaria a lua...
Hoje eu tornaria o impossível possível.
Porque hoje é o dia. O dia.
Mas, por agora, quero apenas dormir.

domingo, 1 de maio de 2011

Cordilheira da dor

Estou desequilibrado.
Hoje e tanto como jamais estive.
A conversão de tristeza em letras não é possível.
E cresce, cresce, aquela dor familiar de tantos outros versos.
E crescem, crescem, os meus versos de poemas salgados e amargos.
Crescem, crescem, toda a azia e dor no peito, das angústias e dos temíveis pesadelos.

E, de todo o mal estar, há de sempre dobrar. Há de sempre transformar.
O universo é, no mínimo, dual e, onde há positivo, há negativo.
Onde há o mau, há sempre o bem para equilibrar.
Peço desculpas ao mundo pelos versos.
Esses versos de dois lados.
Versos equilibrados.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sem título

...mas eu me confundi mesmo.
Pensei em uma coisa e escrevi outra.
E você, gentil que é,
encontrou uma lógica,
dando sentido a um deslize
de emprego vocabular.

domingo, 24 de abril de 2011

Sem título

Você é minha flor
que fechou.
E nunca se abriu.
Eu zanguei
e agora, feito os zangões,
vou zumbindo por aí.
Não mais como zumbi,
feito outrora.
Agora escrevo a minha vida
sem antes rabiscar.
E o rascunho de agora
é meu próprio presente.

domingo, 17 de abril de 2011

Na zona da perovskita

Quando penso que estou

na zona pós-perovskita,

acabo percebendo

que sempre pode piorar.

Noto, então, que ainda estou

na zona da perovskita,

onde aguardo uma super pluma

pra poder pegar carona

e me livrar

daqueles óxidos complexos.

Sem título

Aqui me puseram...
Castigo, sei lá.

E tanto mais prefiro

ser átomos soltos,

dispersos,

a suprir o universo


de outra forma.
Sem forma.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Sem título

A poesia mudou minha vida.
Hoje sou mais contraditório,
mais oscilatório.
Mais instável.
Mais desequilibrado.
A poesia bagunçou minha vida.
Colisões de nuvens carregadas
em dias ensolarados
são costumeiras.
A poesia me afasta,
pouco a pouco,
da faixa visível da luz.
Pouco a pouco,
vou me transformando
num escaravelho.
E escrevo,
o que me torna,
pouco a pouco,
tão mais poeta.


---Créditos para a complexidade da mente de uma grande poetisa chamada Letícia, menina do Rio---

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Sem título

Meu amor é teu.
É teu.
E não vale um centavo,
um cruzado qualquer.
Mas é direto,
sem curvas,
sem cotovelos,
sem vírgulas,
mas muito bem acentuado.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Sem título

Eu sinto você no vento
que, como ar em movimento,
está em todo lugar.
Sopra cada elemento,
em qualquer canto.
A qualquer momento.
Teus alísios,
caracóis como teus cachos,
abstratos
e concretos,
sopram minhas memórias
e meus olhos já feridos
por partículas sólidas em suspensão.
Estou perdido
e a minha alma está tão longe,
impalpável,
inalcançável.
Mas, quando em mim és brisa,
és vento...
Quando sinto
teu leve cisalhamento,
a Terra gira ao contrário.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Sem título

Sou o mesmo de tempos atrás.
A não ser por um ou dois detalhes a mais.
É que agora
certas ondas de som me carregam.
E a loucura, que sempre estivera presente,
contida,
se rebela, reivindicando a percentagem de mim
que lhe é sua de direito.

segunda-feira, 21 de março de 2011

O já dito e escrito

Ah, dito maldito!
Dito já dito.
E já escrito.
Maldito seja esse destino,
que me dita a sorte,
bem dita maldita sorte
dos amores mal ditos.
Amores mal corridos.
Amores escorridos.
Amores esvaídos...
Amores que se vão.
E eu gotejo por esse vão.
Mal digo que é paixão
e me evaporam
para gotejar n'outro lugar.
Ah, maldito dito já dito.
Enquanto gotejo,
maldigo,
medito:
Raios!
Jamais farei parte disto!

sábado, 19 de março de 2011

Sem título

Estou sob o sol,
secando, quarando.
Com o tempo,
perderei todo o meu fluido,
toda a minha cor.
Estou exumando
e perdendo minha ductibilidade.
Estou me tornando uma rocha?
Uma rocha desidratada.
E a vida continua.
E a sorte conspira.
Estou perdendo esperança.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Letícia, olhos de paisagem

O relevo colinoso, em meia laranja,
da convexidade de teus olhos fechados
dá forma a tua face.
Erguendo-se as pálpebras,
cortinas do espetáculo,
o verde musgo se mistura com o mel de abelhas
-doce limo dos bosques-
e os zangões, curiosos,
provam do doce isopor
dado pela malha do espaço.

terça-feira, 15 de março de 2011

Estar humano

É tão breve uma vida humana
que considero um luxo ser.
É como um presente,
uma permissão,
uma vantagem.
Sentir o tempo como sentimos.
Sentir a arte como sentimos.
Sentir a música.
Sentir as ondas.
Sentir o amor.
Sentir uma dimensão específica...
Estar humano
é estar numa faixa estreita de frequências
por tempo limitado.
Um breve deleite.
Um privilégio.

sábado, 12 de março de 2011

Sem título

Lua, ó, lua!
Tinge de ouro velho

as nuvens, o céu.

Reúne as estrelas

presentes, cadentes,

fantasmas no tempo ou não.

Agrupa a todos

para a nossa linda fotografia,

para o nosso álbum de família,

para a nossa poesia.

Reflete no mar,

clareia os caminhos noturnos.

Clareia os espasmos de solidão

de um fotógrafo aficcionado.

Sem título

Todos nós temos a mesma capacidade de amar. Só que nem todos estamos na mesma frequência emocional. Uma maneira de nos sintonizarmos numa faixa razoavelmente próxima, é vivendo em paz. Mas em paz consigo mesmo, para começar. Viver sem pressa, cada qual em seu tempo e respeitando/tolerando o tempo do próximo.
Às vezes, razão demais atrapalha. Às vezes, é a razão da nossa cegueira.
Às vezes, a busca desmedida atrapalha. Às vezes, nos cega também. Busca pelo quê? Aí é que está. Pelo quê? Se você não sabe, quem mais pode saber?
Um conselho a você, pobre atormentado, viva o presente, em paz, pois o momento é um presente. Erre! E ganhe com o erro. Ganhe! E não ganhe nada, a não ser a chance de perder ou ganhar novamente, pois tudo recomeça. Não existe perdedor e vencedor. Existe participante. Então, participe da sua própria vida da melhor forma possível. E lembra-te: Não existe fim no meio do caminho. Vai vivendo. Vai amando. Mas vai em paz.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Sem título

Sou planta sensível, em ambiente hostil,
a qual luta para sobreviver.
Comprimentos de onda, frequências,
mares de gente,
passam por cima de mim.
Me arrastam.
Tentam arrancar-me de mim,
do meu pedaço de chão,
que é o que me resta.
Ambiente hostil.
E eu orquídea.
Hélices-pétalas soltam-se,
uma a uma.
Espalham-se
formando o tapete-caminho
que me levará em segurança ao ninho.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Sem título

Às vezes, o sentimento
atropela as palavras.
E a tradução se perde
na vontade de tocar.
Pois a vontade de dizer
fica apertada
na garganta estreita.
E a palavra
se faz ineficaz.
Às vezes,
a vontade de tocar
não passa.
Pois o instrumento do toque
não se move.
E em minha mente
é festa.
E guerra.

Raios! Raios de sol.

Sem título

Percebi que o que sinto
é apenas a sensação
de membro amputado.
Um fantasma: Acostumei-me com a sua presença.
Rabo de lagartixa:
Ácido lático e espasmos!
Percebi que o que me espera é maior.
Que essa sensação
é apenas acidente de percurso,
parte do caminho.
E o destino é um extremo
e uma constante.
Uma reta silenciosa.
O patamar final.
O juízo.
A consciência.
A paz.
A harmonia.
O equilíbrio.
A sintonia.
A liberdade.
Só que no caminho
há assuntos importantes a tratar.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Sem título

Entre a minha palma e a tua face
há uma zona:
Afago.
Entre a minha palma e a tua face
há uma superfície:
O toque.
Entre o utópico e o palpável
há um abismo:
Solidão.
Entre mim e você,
a distância:
Dois extremos inalcançáveis.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O mistério das latas perdidas

Há muito, muito tempo...

...quando a nossa moeda ainda nem era o Real, um garotinho, muito sagaz para a sua idade, ganhou de presente uma latinha de bolas coloridas de frescobol. Sem as bolas. Provavelmente, quem o presenteou com a fascinante latinha, fora o seu pai. Provavelmente.
O garotinho, que além de muito sagaz, era também -e, provavelmente, até hoje é- detentor de um intrigante bom senso. Consciente era esse garotinho, que preservava os seus bens, seus pertences; que colecionava; que protegia os seus brinquedos das garras dos irmãos; que guardava as suas moedas de Cruzeiro Real...
Um dia foi proposto a ele -provavelmente pela sua mãe- juntar moedas em latinhas. E caíram bem as moedas na latinha, como um casamento que deu certo; como duas peças de um quebra-cabeças; como esses clichês do tipo "as metades da laranja", "yin yang", "alma gêmea"...
E muito bem o garotinho juntava as moedas que, logo logo, surgiu a necessidade de outra latinha. E depois outra e outra. Eram latas de leite, de achocolatado, de bolas coloridas de frescobol... Um dia, a mãe do garotinho pediu-lhe umas moedas para ajudar na feira da semana (sempre aos sábados). Com dificuldade ela o convenceu a ceder-lhe umas moedas. Só que o inconveniente passou a se repetir. E não apenas para as feiras semanais. Inconveniente porque o bendito garoto era muito fiel e determinado com a sua missão de guardar as moedas. Tão fiel e determinado, tão focado na tarefa que, é provável que ele nem soubesse o porquê de juntar as moedas. Não era ruindade, nunca foi. Nobre sempre o foi.
Com a necessidade das moedas se tornando frequentes pela mãe do garoto, surgiu uma idéia: Esconder as latas. Qualquer buraco se tornava caixa-forte. Debaixo da cama, falho! No armário da estante, detrás das bugigangas, falho! Qualquer esconderijo era falho.
Mas com cada tentativa falha, como dá-se para perceber na ordem em que foram citadas, o garotinho ia adquirindo experiência na arte de esconder dinheiro. Um dia, ele escondeu as latinhas (que já eram muitas) tão bem escondidas; numa caixa-forte de tão avançada tecnologia anti-furo; projetada por renomadíssimos engenheiros que, num dia bem agitado -e ele achou mesmo tão estranha a agitação daquele dia-, a sua mãe pediu-lhe todas as latas. Todas as latas! Todas as moedas dele! Mas que absurdo, ele deve ter achado. Absurdo e muito estranho. Ouviu todas as desculpas mirabolantes da parte de sua mãe. Até mesmo que a moeda nacional iria mudar e que se não as entregasse, ele perderia toda a sua fortuna reunida ao longo de muitos e muitos anos de canguinhagem desmedida.
Mas, depois de árduas tentativas de convencimento e persuasão, o garotinho foi vencido. Só que, na hora de tirar as moedas da caixa-forte...
-Cadê? Você pegou! Você pegou! Minhas moedas!
-Não, meu filho! Você não se lembra onde as escondeu.
-Não, você pegou! Alguém pegou! Pegaram minhas moedas!
"Pegaram", termo muito usado quando não se tem o controle da situação; quando não se entende a situação.
Enfim... Tão bem escondidas foram as latas que, de fato, a moeda nacional mudara naquela ocasião. E o governo dera um prazo para que a população fosse trocando o papel-moeda. Os dias foram passando, o prazo foi se esgotando e as latas nunca foram encontradas. Gnomos? Duendes? Mãe? Pai? Irmãos? Tantos eram os suspeitos pelo sumiço das latas.
Essa é uma história que não tem final feliz. As latas apareceram tempos depois. E é justamente por isso que a história não tem final feliz. Apareceram tarde demais.


---Para minha mãe. Aguardo correções nos fatos e nos erros de português, Lala.---

A caixa

---Em andamento---

Fico imaginando como seria o universo, se cada elemento fosse uma "ilha". De fato, é bem interessante refletir sobre tal questão. Na verdade, é interessante refletir. Refletir. Sobre tudo, em conjunto ou separadamente. Refletir. Expande a mente. É como desamassar uma bola de papel. Desamassar o cérebro de dentro para fora, se esticando.
Mas, retomando o raciocínio, é difícil imaginar como seria a dinâmica do universo se os elementos não se inter-relacionassem. Um sujeito sempre está sujeito. Um sujeito sempre sujeita. O bater das asas de uma borboleta, em um lado do planeta, repercute do outro lado. O consumo de hidrogênio e hélio, no centro do sistema solar, repercute na forma de alimentação de seres "auto suficientes" do lado de cá. Uma ínfima variação na estabilidade do zero absoluto resultou em 13,7 x 10 à nona potência (em anos) de expansão... Enfim. O que quero dizer é que todo e qualquer evento tem sentido e cada elemento está ligado, ou seja, todos estamos ligados uns aos outros, sejamos matéria ou energia. É preciso raciocinar para além do campo da vida. É preciso percorrer os domínios do que compõe tanto a vida quanto os corpos em geral. Matéria em geral. Matéria que ocupa espaço e tempo e que transforma energia.

---Continua---

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Sem título

Preocupo-me
em utilizar a palavra certa,
não visando a estética,
a rima ou a métrica.
Mas sim,
o sentido.
Em como o meu mar
de palavras
irá quebrar
na costa da tua mente.

Sem título

Seres que vivem sob circunstâncias extremas.
Seres que vivem situações extremas.
Só eles podem alcançar um nível de percepção aguçada, o que os torna seres de difícil compreensão. Insanos? Sem luz?
Um cão de rua, um burro trabalhador, um peixe no aquário, um sapo, uma minhoca, um humano castigado...
O fraco. O incapaz. O invisível.
Aquele que passa e/ou passou por provações das mais severas. Só ele pode saber. Só ele pode entender.
Ele foi reativado. Teve seu cérebro chacoalhado.
[Pois o ser humano nasce pronto. Porém, é necessário que haja a circunstância que promova o despertar.]
Ele agora é imune às mentiras do mundo. Só ele pode ver a verdade (que não existe uma única verdade).
E é necessário ir além. E é necessário ir aos extremos da carne e da mente para que seja revelada a natureza do ser. E a grandiosidade do homem apenas pode ser revelada nos extremos, seja da escuridão, seja da luz. É quando o contraste entre o homem e o Deus se dissipa, revelando-nos a semelhança que há entre a imensidão do universo e a grandiosidade do ser humano.
É nosso dever perpetuar o equilíbrio das dimensões. Equilíbrio entre cria e criador. Não deixar que nós, as crias, sejamos ridicularizadas. Não deixar que a nossa importância seja esquecida, camuflada. Somos seres espetaculares, com certeza. Somos engrenagem do delicado universo. Combustível.
Jamais nos permitamos interpretar, erroneamente, que a importância da nossa existência nos eleva ao patamar de centro do universo. A vida tem se renovado inúmeras vezes em tempo terreno, em tempo geológico. E nada pode impedir essa ordem de continuar a acontecer, sucessivas vezes. Então, saibamos, que o conjunto, Deus, é infinitamente maior.
Eu não tive a honra de ser um ser castigado e, se a tivesse, não saberia dizer se seria capaz de alcançar a luz -ou pelo menos vencer a tormenta. Pois é "sorte boa" aquele que, mesmo desgraça após desgraça; pestes após pestes; pragas após pragas; trevas após trevas; "sorte boa" permanece. E, no mundo do sujeito que alcançou a luz, tudo o que imagina "existe, tem e é".

---Inspirado pela mente de Estamira---

Sem título

Acredito na dinâmica
da divina imensidão.
Nas leis
de ação e reação.
Acredito no tempo,
Deus da inquietação,
que tira o sossego
das mentes pensantes,
dos loucos errantes
dos homens de fé.


Acredito no equilíbrio.
No vai e vem,
no elástico.
No zig-zag,
no plástico.
Na entalpia e na entropia,
na ordem do caos,
no caos da ordem.


Acredito no que não me é permitido
ver e tocar.
Apenas sinto -quanto a isso
não há restrições.
Acredito na minha ingênua fé,
como a que têm as crianças.
Acredito na ordem e na desordem
-meu aconchego-
que me confortam,
que zelam a sorte.


Acredito no potencial das palavras
quando carregadas de intenções.
Na desordem do poema rebelde,
que oferece ordem no pensar.
Na desordem do poema
que ilumina um ser.






Obrigado, minha irmã, pela alegria e inspiração no momento. Você gerou uma fagulha aqui no interior do conduto lacrimal.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

3 X 1

Dos quatro elementos
não sou o seu fogo,
nem o seu ar,
nem a sua água.
Sou a sua terra,
sua rocha,
seu continente,
ao qual atracas
quando estás carente.
Você sempre acaba, de supetão,
no vácuo da minha mente,
sem massa e sem atrito.
És a minha ardente
chama os meus escritos
de fogo, água e ar:
Você é o meu fogo, a minha água, o meu ar
e cacos de vidro.
Mas nunca a minha terra.
E o resultado final é 3 X 1,
para mim ou para você...
Vai saber.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sem título

Ainda,
da pancada no rosto,
sinto o gosto de sangue.
Do meu sangue
que chora para dentro.
E eu engulo.
E eu estanco.
E toda vez que sentir o ferro e o sal
de sangue e lágrimas,
saberei que venci,
pois os engoli.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Sem título

Tente me seduzir com teus cachos.
Me desmantele com teu largo sorriso na praça.
Mas saibas que sou muito particular
e que tenho raízes fortes e profundas
no centro de mim.
Não vou avançar,
te cercar e te comprimir.
Não sou assim.
Não vou usar força,
violentar a minha essência.
Sou mais como um evento tafrogenético:
O chão se abre e se vê,
sob a epiderme da Terra,
as belezas de um magmatismo.
Será que todo homem tem que ser
tão orogênico?
Eu dou risada, tinjo sorriso.
Baixo a guarda, reclino o olhar.
Mesmo assim, tente me seduzir.
Salte alguns obstáculos
e verás o meu magmatismo.
Faça um esforço por mim,
pois já não tenho paciência para flertes.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Asma

Naqueles momentos
em que o ar não enche.
Quando suado,
passa rasgado
nas vias estreitas.
Quando a noite é uma trilogia...
Fecho os olhos e vejo
o paraíso em meu interior.
Ontem foi um vale
com seu rio sangrando,
pelos vasos da Terra,
até o mar.
E eu singrando
sua superfície,
por entre as serras,
bem devagar... bem devagar...
E, quando me dei conta,
o ar já enchia.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Nenhum título

Eu acabo fazendo tantas observações, sobre tantos temas. Análises, de eventos e fenômenos da natureza humana. Mas há algo que nunca consigo descrever -não com um mínimo de propriedade: A morte de um amor. Como exaure-se sentimento deveras significativo do interior de um indivíduo? Jamais consegui penetrar até as raízes dessa questão. É como ter consciência da existência de uma dimensão além da qual nos é permitido desfrutar. É como ser livre, ir além, visitar o naturalmente inalcançável, tocar na mão de Deus, compreender toda essa experiência e retornar, satisfeito, para casa. É ir e vir quando bem entender. É ter o controle. É poder visualizar, analisar e compreender o fenômeno que está ocorrendo bem diante dos nossos olhos.
Mas, o que estou descrevendo apenas é a minha hipótese de como deve ser a sensação de poder compreender a questão que eu criei e que julgo ser um feito miraculoso.
O amor parece ser o sentimento mais descrito pelo ser humano. Também parece ser o sentimento mais interessante. E talvez essa incansável tentativa de descrevê-lo seja uma consequência. Consequência da enfática existência desse sentimento na vida de um indivíduo.
Eu já tentei descrever o amor. Essas tentativas fizeram parte do momento da minha vida que se chama aprendizado. Não me refiro a meras desilusões. Me refiro a algo cuja trama é muito maior e mais complexa. Me refiro, pura e simplesmente, as ingênuas tentativas, ao conjunto de tentativas de viver. Cheguei a conclusão de que o amor não se descreve. Não com apenas um verso ou uma estrofe. Não com apenas um parágrafo. Não com apenas um texto ou uma poesia. Não com algumas rimas... Mas com uma vida inteira de ações. Uma vida inteira de palavras. Uma vida inteira de idéias, que deixam marcas, que registram, que são eternas. Uma vida de tentativas de descrições. Uma vida de palavras selam o conjunto de uma vida de amor.
Finalmente entendi que o amor é esse conjunto e que ocorre todo o tempo dentro de nossas mentes e que, consequentemente, ocorre em nossos corpos, quando saliente, quando aflora, quando manifesta-se.
Então, o meu amor será o meu legado. Será o conjunto de suas manifestações, as influências que causou e causará, tanto em meu corpo e em minha mente, quanto em corpos e mentes de outras pessoas. O meu amor será as palavras que escrevi e que escreverei, fotografias que tirei, telas que pintei... Afloramentos que descrevi, prédios que construí, salas que decorei, lares que cuidei, crianças que amamentei, prédios que zelei, incêndios que apaguei, pratos que lavei, pratos que servi, telefonemas que atendi, canetas que vendi, automóveis que conduzi... O amor é cotidiano. Será lido e sentido. Viverá.
Mas, voltando à tamanha deficiência que eu tenho em compreender a morte de um amor, percebi que o amor é imortal, em nossas vidas, em nossa duração na Terra. E pode ser imortal também para além da nossa passagem. Pode durar mais, nas memórias de um filho, de uma mãe, de um pai, de irmãos... Nas memórias de uma mulher, de um homem, de um estranho lendo uns registros de outro estranho...
O amor é construído e lapidado ao longo da vida. O amor continua se completando, à medida que nos completamos na Terra.

Analisando "Sedimento Fino"

Sou argila,
sedimento fino em suspensão.
Toda intempérie me carrega.
Parte de mim é erosão.

*Argila é um tamanho, uma fração, em linguagem geológica. E uma fração bem pequena -não quero dificultar as coisas, pois prezo a acessibilidade.
**Então, quando digo que sou argila, me julgo pequeno. Pequeno, diante da imensidão do universo e da sua dinâmica... Da sua sorte.
*Um sedimento fino tende a ser carregado/carreado/arrastado. Tende a ser o último a decantar e a estabilizar-se num meio. Aquele (sedimento fino) é como os seres planctônicos, que vivem sob a dinâmica do oceano, conduzidos pelas correntes marítimas.
**Eu faço parte da dinâmica do universo. Sou mais uma peça da incalculável, portanto divina engrenagem a qual todos, seres vivos e não vivos, fazemos parte. Estou à mercê dessa dinâmica e assumo isso. Quem sabe o que nos espera no milessegundo seguinte? Enquanto isso, vou vivendo, pois a minha vida eu sei que me pertence. E com ela, contribuo com a dinâmica do universo, influenciando qualquer coisa que esteja ao meu redor, definitivamente, sem volta e... Para sempre.
*Erosão, em linguagem geológica, é um processo em que há um desgaste de um corpo, provocado por um fenômeno ou agente intempérico. Os fragmentos desse corpo são transportados pelo agente intempérico (que pode ser fluvial, pluvial, glacial, eólico...) e, em seguida, depositados em um ambiente de menor energia (naturalmente, em áreas mais rebaixadas).
**Parte de mim é erosão, parte de mim sempre é arrancada pelas intempéries da vida; transportada, influenciando cada indivíduo por onde passa; e depositada nas depressões do passado. Parte de mim é erosão partindo do pressuposto de que todos somos mutáveis. Tudo é mutável. Tudo se transforma. Tudo se transporta. E, dentro da erosão do universo, eu sou uma pequena parte, assim como você.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sem título

Conversas profundas nunca foram possíveis com Ela. Mas, mesmo assim, Ele mantém um diálogo -não se sabe se diálogo com Ela ou consigo mesmo. Parece que Ela o inspira, de algum modo. E, de algum modo, partindo dessa suposição, de reatividade e inspiração, pode-se inferir que isso já é o bastante para se estabelecer um diálogo. É ação e reação. Mas, como é possível uma reação de quem não fora tocado? Isso ainda é um mistério. É uma estranha comunicação, às suas maneiras. De alguma forma Ele é tocado. Em seguida, sua imaginação faz o resto. Mas uma dúvida insiste em permanecer: Ele fantasia ou vive infinitos instantes? Também não se sabe mas, sabendo que instante é algo inexplicável, intangível e divino (pois dá-se a Deus tudo o que não se pode explicar e/ou tocar), tendo a crer que Ele vive a colher pistas fantasiosas pelo vão (o que seria o "infinito instante": nada mais que um vão ou um intervalo de tempo, dentro do qual pode-se viver lembranças que propiciam sentimentos intensos de modo a confundir a concepção de tempo -tão relativo tempo- daqueles que já tentaram e dos que continuam tentando descrevê-lo, romantizando-o ou não). Também tendo a crer que Ele manipula tais pistas para que possa dar vida ao que seria uma conversa. Para que possa criar a sua pseudo realidade. Ele, pelo menos, sente vontade de conversar e não se preocupa em saber sua identidade. Ele só quer conversar. Ele quer dar sentido ao vocábulo "diálogo" porque, até então, este nem se promoveu ao status de palavra.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sem título

Permita-me mostrar-te
a minha chama e a minha luz.
Permita-me fazer-te
um ser humano completo.
Injetar-te o meu amor.
Permita-me ser o teu protetor,
o teu dedicado
amigo,
irmão,
companheiro enamorado.
Encaixar-te os meus olhos
-teus espelhos- para que te vejas
como eu a vejo:
A imagem,
tão temida imagem,
composta por pescoço, lábios, coxas, cachos...
E, principalmente,
por uma incógnita.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Sem título

Repousar é decantar,
viver em paz.
É dieta de pão e água:
Estreita as vias
e fragiliza.
Entorna de longevidade
e fragilidade.
E torna livre
de radicais livres.
E quebra com facilidade.
É melhor viver a vida turbulenta.
Viver em suspensão.
Convoluto, à correnteza
do universo.
Interromper a decantação.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Os dois lados da moeda

Quem me dera estar incluído nos teus planos, pois você está nos meus. Só falta uma coisa: Você querer. Você me deixa na condição de um romântico, ó, idealizada minha! Romântico contemporâneo. Eu teria você por um século, meu bem. Te amaria com dedicação e te mataria com tanto amor... Com o meu amor. Então, é melhor que você se mantenha mesmo distante de mim, pois eu sou uma farsa. Eu e todo esse meu amor. Sou um perigo para mim e para você. Agora, mesmo depois do meu alerta, se você quiser livrar-me da condição de romântico, agradeço a ti por ser cabeça dura.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Homenagem a minha maneira

Talvez eu ainda tenha alguma sensibilidade. Algumas pessoas medem sentimento -medem pesar- com lágrimas. Não desejo ser audacioso mas, afirmo que não é com lágrimas que se mede sentimento. Em mim não desce... Não desceu uma gota sequer de lágrima, mas a homenagem que posso lhe prestar é este momento de inspiração que a influência da sua existência, mesmo que imaterial, me proporcionou. Um momento em que lhe escrevo, jovem. Você passou. Passou por mim, por outros, por nós. E eu, outros, nós, estamos aqui hoje, com o teu retrato fincado em nossas memórias. Este dia me fez perceber que cada um de nós acontecemos constantemente em todo o mundo, no universo. Você aconteceu, continua a acontecer e continuará acontecendo. Um exemplo de tudo isso aconteceu em mim, hoje, onde você me mostrou que cada um de nós existimos, mesmo que na ausência de matéria. Todas aquelas pessoas, aquelas demonstrações... Não esqueçamos disso.
Outras coisas me roubaram as lágrimas, mas não a lucidez.

Sem título

Hoje me lembrei que sou diferente.
Já nem lembrava mais.
Até hoje,
enquanto todos choravam.
Acho que já chorei demais
por outras coisas.
Coisas que me tornaram seco
para todo o resto.
Na verdade,
ainda não sei
se não regulo como os outros,
se sou um homem das palavras,
dos sentimentos,
ou se,
de fato,
coisas outras me furtaram
toda a capacidade
de chorar.

sábado, 1 de janeiro de 2011

A palavra e a música

A palavra, como a música, é usada para provocar reações. Eu não faço música. Organizo palavras: Eu escrevo. E escrevo não única e exclusivamente para mim, mas também para provocar uma reação em quem necessite, por um momento, de um determinado sentimento.
A música é vibração e tem uma ação mais direta, alcançando com maior rapidez (como quem pega atalho) os sensíveis capilares emocionais. Não é apenas ouvir e sentir e sim ouvir, ser tocado pelas vibrações e sentir, enquanto a palavra é um instrumento usado para reproduzir tais vibrações -um modo alternativo e indireto de se alcançar os sentimentos. Um artifício. Uma ponte que nos leva a um outro estado. Nos leva a produzir as vibrações das quais necessitamos.
A palavra e a música combinadas... Fiquei sabendo que tal combinação tem poderes incríveis.

Palavras de um sonho

Eu sonhei...
Eu me sentia a favor da força do vento.
E ele me levava, soprando renovação,
rumo a um novo tempo,
onde eu me encontrava
livre de qualquer sintoma de autodefesa,
pois não mais precisava me defender.
Eu me sentia a favor do vento.
Livre de autopiedade.
Eu sonhei.