Sedimento fino

Sou argila,
sedimento fino em suspensão.
Toda intempérie me carrega.
Parte de mim é erosão.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Sem título


Das coisas que o universo toma e dá,
é necessário saber
da importância de aceitar.
Na alegria duma dádiva,
na frustração duma perda,
só há um caminho:
Como indivíduos, elementos de um todo,
entendamos,
por que haveríamos de ter
mais importância que uma partícula de poeira?

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O bem e o mal


O bem é o caminho
que o mal nos aconselha.
O mal é o susto
que nos abre os olhos.
O mal
é um bem necessário,
um instrumento.
O bem,
a sorte e o destino.
O bem e o mal
são o equilíbrio do universo,

materializado
no corpo de uma mulher.
Sim, ela é
meu bem e meu mal,
que me arrebata
e me abre os olhos.


quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Os novos conquistadores e a nova máquina de escravidão


A escravização do ser humano é um problema sério que, ainda hoje, vigora. No passado (leia-se num passado não tão distante), era um flagelo que assolava o conquistado, o colonizado, o sócio-economicamente vulnerável, o que ainda acontece. Porém, os conquistadores acreditavam, de fato, que isso era normal e correto, além de ser comum. Hoje, a escravização do ser humano se prolifera nas diversas camadas sociais, culturais e étnicas. É global e globalizada, e quem tomou o lugar do conquistador  é qualquer que esteja sentado em trono capitalista; qualquer que detenha o poderio tecnológico, financeiro, imobiliário, político, dentre outros. Enfim, quem escraviza, hoje, é qualquer que detenha os poderes do homem moderno: O capital.

Grandes empresas, indústrias e organizações, multinacionais, detêm a tecnologia que, em ciclos anuais ou bianuais, é renovada ou aperfeiçoada, obrigando o consumidor e, mais ainda, o consumista, a se atualizar a cada novidade, a cada pulso de injeção de tecnologia no mercado, que vem em conta-gotas. Pois, é o efeito conta-gotas a metodologia que escraviza o ser humano de hoje, esteja ele na grande nação norte-americana, esteja ele no oriente médio, esteja ele no Brasil.

A diferença do conquistador de ontem, em relação ao conquistador de hoje, é que o conquistador de hoje tem como exemplo o conquistador de ontem, que lhe concedeu, com os exemplos do passado, uma aula de como conquistar lenta e friamente, sem causar revolta popular - e melhor! - gerando lucros que, nem eu, nem você, podemos imaginar. Lucros oriundos das necessidades humanas - das modernas necessidades humanas. O conquistador de hoje acredita que é normal e comum escravizar, mas não ligam que não seja correto. O conquistador de hoje não tem nacionalidade.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Sem título


Poesia é transformação.
É tudo o que é traduzido,
descrito,
com inspiração.
É conversão e aproveitamento.
E o poeta
é aquele que visa,
sempre,
a maior porcentagem.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Sem título


Não precisa me dizer essas coisas,
pois qualquer cretino que já amou
sabe que dói.
Um dia, você acorda, eu sei.
Vai acordar, aos poucos,
de um sono profundo,
de um sonho
que, outrora, fora fecundo
e que já morreu.
Não há problema em amar
e não ser correspondido.
Mas, tenha cautela
quando amar,
sem reciprocidade,
e não estiver livre
dos caprichos de um apego irracional.



Para a minha Amigona.

domingo, 4 de novembro de 2012

Sem título

As pessoas se esforçam muito para administrar superficialidades, pois é mais fácil viver assim.

Ser superficial permite o alcance de um objetivo - também superficial - de alcançar popularidade dentro das sociedades, bem como acontece, também, em redes sociais. E, no mundo globalizado, no mundo da internet, a supervalorização da esfera mais externa - a esfera ligada às aparências - tem sido crescente.

É necessário ter cuidado com o excesso de valor dado à esfera mais externa. Para isso, é preciso que o indivíduo tenha ciência de que é mais fácil lidar com tal esfera, pois a maioria das pessoas a exibe mais desenvolvida que a esfera mais interna, o que é natural na humanidade.

A administração de apenas superficialidades condiciona a criação de uma aparência. Então, uma pessoa superficial cria um tipo de envólucro, uma crosta de aparências, uma concha, passando a alma a viver confinada e solitária, na imediata zona mais interna, mais profunda e pouco desenvolvida, quando não atrofiada. É como uma tensão superficial impenetrável, em um lago, onde não se pode mergulhar em suas águas, onde não se pode aprofundar-se.

As pessoas querem ser legais, querem falar, não importando, muitas vezes, se serão ouvidas - por isso a má administração de suas zonas, suas esferas.

O corpo é a morada da alma, na terra. Sendo assim, o corpo necessita de portas e janelas para que a alma possa respirar, e para que o lago possa ser acessado e ofereça um pouco de suas águas mornas, potáveis e límpidas, e para que este se aprofunde cada vez mais. Há, então, uma troca.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Pensar às avessas


Penso nos avessos,
penso às avessas,
pois,
nos avessos às avessas
é cretino pensar,
meu pesar.


Penso na vida.
Penso na Terra,
na terra, no céu.
No que é da terra
e no que é
do céu.


Penso na morte,
na terra e no céu.
E na Terra
que tudo abriga.
E no que é do céu
e da terra.


Penso nas distâncias.
Nos encontros e despedidas.
Nas partidas
daqueles que partem
sem saírem do lugar.
creem na partida
daqueles que permanecem.
E aqueles que permanecem
são os que moram no céu.
Os que partem
são os que moram na terra,
pois a carne é o que parte,
pois que fica na terra
e retorna à Terra.


Penso na saudade.
Saudade que ambos sentem.
Quem mora na terra
e quem mora no céu.
Cada qual com sua visão:
Quem mora no céu,
a dizer: "Eu não parti",
e quem  mora na terra,
a indagar: "Por quê? Por que partiste?".

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Tiro de meta


Um exemplo de como podemos comparar a humanidade a ecologia, sem o preciosista selecionamento dessa espécie, no reino animal:

Assisti, num programa jornalístico de televisão, uma notícia com imagens de um espancamento, onde um homem de 37 anos é espancado por um grupo de jovens. Após ser espancado, passam-se 20 segundos e aparece um outro homem, que lhe retira o cinto (o cinto!) e os sapatos e vai embora. Isso me lembra as leis da savana, onde é possível ver um grupo de leões a caçar uma zebra. Logo em seguida, os comedores de restos aparecem para fazer a sua parte. É o que acontece no exemplo do espancamento: Os leões predam a vítima e, 20 segundos depois, um ladrão, como um abutre que se alimenta dos restos deixados pelo leão, rouba ou furta (isso vai depender do estado do espancado) seus pertences. Até aí, a comparação da humanidade com o cotidiano ecológico dos outros animais se mantém como comparação, mas, passa de comparação para comum analogia, quando concordamos que o leão mata para alimentar-se, bem como os abutres aproveitam-se dos restos devido a mesma necessidade fisiológica. Contudo, um fato torna difícil a crença de que o ser humano seja mais evoluído que os outros animais: O leão não retorna pelos restos deixados pelo abutre, nem para cobrar o tiro de meta.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Breve estória de João


Vou contar a estória de João. João, criatura de aparência aparentemente tão comum, de nome tão comum, foi um homem mau, muito mau, já nasceu mau. Era tão mal, que não pecava. Nunca pecou. É, abdicou de pecar para, com justiça, poder atirar pedras em alguém que dissesse: "Quem nunca pecou, atire a primeira pedra". Num dia qualquer, de um mês qualquer de um ano qualquer, João ouvira a célebre frase. E, assim, sem pensar 3,1415 vezes, João pecou (não precisa dizer como). Já era velho, tinha noventa e três anos de idade. Pecou e morreu. Pecar fora seu último suspiro de vida. Viveu como um homem santo. Morreu como um assassino.


(Breve pausa).


Ironicamente, parte desta narrativa inventada é falsa. Então, vou explicar direito esta estória, a de João da Rocha Pedrosa. João já nasceu com uma ideia fixa, com um objetivo na vida. O homem mais disciplinado e dedicado o qual já ficcionei passou cada momento da sua vida almejando, com afã, com afinco e com outros sinônimos, apedrejar alguém. Porém, extremamente metódico, criou um "se" para o seu objetivo, pois não achava correto, em lógica, apedrejar por apedrejar. Tinha que haver um "se". Foi então que João decidiu apenas apedrejar a pessoa que dissesse a frase "quem nunca pecou, atire a primeira pedra" e, assim poder exercer toda a sua maldade de homem mau, seja mau com u ou mal com l. Os anos se passaram e João não ouvia tal frase. Apenas em sua velhice, com seus noventa e três anos de idade, foi que ouvira a frase. Quando do fatídico dia, passava o verão em sua residência, em Banguecoque, aos cuidados de sua amante transexual. Um crente bateu à sua porta para pregar a palavra do Senhor e, no meio da prosa, largou o verbo: "E Jesus disse: Quem nunca pecou, atire a primeira pedra". João tivera um ataque fulminante do coração e batera as botas, naquele momento. E foi assim, morreu do nada (mesmo já sendo tão ancião), tendo vivido como um falso santo, um homem pseudo-iluminado. E, o que era para ser uma breve estória, acabou sendo estória, mas, não tão breve assim.


Há furos na estória. Primeiro: Como João decidiu apenas apedrejar alguém, caso ouvisse a frase "quem nunca pecou, atire a primeira pedra"? Para isto, ele teria que já ter ouvido essa frase em algum lugar. Segundo: O conceito de pecado não é, em momento algum, definido. Mas, analisando do ponto de vista do cristianismo, de acordo com Os Dez Mandamentos, adultério é um pecado. Então, o que fazia João com uma amante? E em Banguecoque? João nunca pecou?

domingo, 23 de setembro de 2012

A teoria da dispersão dos semelhantes

Quando se encontra um semelhante, algum que pensa semelhante, que entende suas ideias, esse é um evento raro, que tem a função simples e importante de te fazer ciente da existência desse ser, de seres como você. Por algum motivo, essas pessoas não podem e não devem permanecer na sua sorte. Talvez, motivo esse espiritual. Quando se encontra um semelhante, esse é um evento pontual, um segmento. Talvez, essa seja a metodologia do universo de não estagnar a cultura e a espiritualidade humana. Não parar a construção. O universo não deve concentrar os semelhantes em núcleos. Embora os semelhantes se busquem, como cada bandamento em um gnaisse, o "fluxo deformacional" do universo se encarrega de destruir as estruturas, mesmo após todo o trabalho de tê-las reunido e estruturado. Por isso, devemos aproveitar enquanto estamos gnaisse, enquanto somos bandamento, pois não o somos (gnaisse) e nem devemos sê-lo, de acordo com os planos do universo - estamos, por vezes. E, de acordo com os planos do universo, é importante a reciclagem, é importante fluir. O caos é a ordem. A ordem é o caos.

sábado, 1 de setembro de 2012

Sobre momentos sob luares

Ser estado é ser momento.
Há um estado, em particular,
situado no meio,
num contato,
residente nas superfícies,
entre dois mundos,
entre o céu e o mar...
Há um fino filme
que se desfaz em fios
de queijo derretido....
Fino filme de cisalhamento,
barquinho arrastado,
estirado,
na zona de falha noturno-estrelada,
pelo atrito
do bloco céu com o bloco mar.
Há um intervalo
entre a sanidade e a insanidade.
E loucos perambulam entre nós
-eles podem estar em qualquer lugar,
até mesmo sob o luar
de queijo cheddar derretido.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Vamos gastar

Feche os olhos e sonhe
enquanto a vida passa.
Não há nada de errado
em ter medo.
Às vezes,  o sonho dura.
Às vezes, dura demais.
E, às vezes, é apenas um piscar.
Feche os olhos e durma.
Durma, enquanto teu pé cresce.
Pior seria se não crescesse.
Meu pé cresce
todas as vezes que sonho.
E continua crescendo
até que eu acorde.
Viva ao sonho!
Viva o sonho!
Viva!
Até quantas vezes
for necessário acordar.
Estamos no interior. Vamos gastar!

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Sem título

Se você se descuidar, acaba se perdendo.
Hoje eu estranhei meu nome.
Estranhei quem sou, o que sou.
Minhas memórias sumiram.
Minha história desapareceu.
Eu sobrevivo,
por aí e por aqui,
vagando,
acreditando viver.
Às vezes, tenho uns minutos de lucidez
e lembro que não me lembro das lembranças
que deveriam suportar meu ser.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Conexão

O toque entre duas bocas
gera uma conexão
entre dois indivíduos.
O indivíduo,
após todo o frenesi da atração,
do amor e da paixão,
após a tempestade
num oceano frio e ignorante de latência,
depois que, com a sua boca toca outra,
tem a sensação do avistamento.
Torna-se o descobridor do novo mundo
e lamenta
não antes ter zarpado
com a sua nau.

A boca alimenta o corpo e a alma.
Através dessa abertura
o alimento do corpo é conduzido.
Com o beijo,
a alma se torna autótrofa,
pois beijar
é surpreender de luz solar
um vegetal no meio da noite.
É criar um par de simetrias bilaterais.
É tornar o simples
um complexo.
A reta
uma curva.
Dois seres
apenas um.

Por um breve e confuso momento,
me ocorreu que,
talvez,
a superfície entre duas bocas
fosse espelho.
Que, talvez,
os meus lábios - e não os dela -
me alimentassem.
Mas, é fato que
sem ela,
sem seus lábios,
eu não poderia,
jamais,
realizar a fotossíntese.
É fato que a luz vem de longe
e beija a folha.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Sem título

Tristeza não avisa.
Mas se pode prever
que nalgum momento chegará,
certeira,
pois é ciclo
na vida,
eustasia.
Saudade rebenta e afoga
quando com tristeza vem.
Persistente, até fazer fragmentar.
Ah, essa onda robusta da tristeza
afoga de surpresa.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Sem título

Luz que me atravessa sem sofrer desvio.
Nada dela é absorvido.
Nada é refletido.
Luz que não cessa.
Luz branca que não se decompõe,
pois sou apenas um pedaço de vidro
que sonha em ser prisma
e decompor suas cores.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sem título


Num universo,
fora do universo do universo dos demais,
dois estranhos sujeitos,
que não os sujeitos sujeitos a seu universo,
interagem internamente em seu universo,
dentro do universo do universo dos demais.
Os demais,
demais numerosos,
jamais poderiam saber
que se soubessem saber
da presença dos dois estranhos sujeitos
talvez, quem sabe,
o universo do universo deles
fosse o nosso universo.

sábado, 7 de julho de 2012

Sobre corpo e alma

Energia interage com matéria.
Simplesmente acontece.
Um dia, houve um acidente
e a interação dantes, tão significativa
quanto o toque do vento numa pá de catavento,
passou a ser simbiose.
Ganhou novo significado.
A vida aconteceu.
De poeira à Homo sapiens,
átomos, moléculas, verme, símio, ...,
a matéria se transforma.
A energia evolui e involui,
oscila.
Então, o que sou?
Sou matéria, morada de energia?
Energia, nômade do universo?
Ou um acidente numa usina eólica?

sexta-feira, 15 de junho de 2012

De volta à realidade

Muito mais do que a ocultação de uma "reunião de jovens carismáticos" é necessário para me entristecer. É mais do que isso que me tira do sério. Por vezes, me capto num relance de engodo sobre falsos incômodos flutuantes-oscilantes. Delírio, fantasia, engano... Farsa de mim. Não sou eu quem se aflige por pouco. Por tão pouco. Tampouco, com ilusões momentâneas da realidade. O ser nasce puro e a sociedade tende a sujar o seu sapato branco. Às vezes, eu tento lavar o meu sapato.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Sobre o que não volta mais

Momentos orbitam o tempo num intervalo de pensamento.
É quando eu lembro. Lembro bem, em tempo.
E me desloco, em lembrança, pela malha temporal,
porém, fincado no espaço presente
como pedúnculo,
como cartaz no mural,
pela perfeição do universo, que gera uma incoerência
entre duas dimensões.
Essas são palavras tão pensadas por alguém que,
movido por saudade, acreditou ser possível voltar
e retirar um foco de lembrança da órbita do tempo.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Sem título

A vida acontece em 3 minutos e 58 segundos,
ao longo de uma lembrança,
ao longo de uma canção.
É a vida que há entre o que passou
e a fantasia.
A vida de um sonhador inquieto,
que sonha antes mesmo de dormir,
de olhos abertos.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Para os fanáticos românticos

Não existe alma gêmea. Somos todos parte do todo e, às vezes, alguém percebe isso. Algum ser, em estado avançado de espírito, alcança a luz que entra por uma fresta ou por uma janela e nota que amar é saber que somos iguais. O ser humano, então, que sempre gostou de dar nome às coisas, chamou de amor essa sensação de igualdade. Somos matéria e energia, componentes de uma trama suprema. O amor, por si só, já é uma janela e, quando achamos que o sentimos por algo ou por alguém, na verdade, estamos olhando através dessa janela, cara a cara com a verdade de Deus, com a verdade absoluta do universo, invisível, intangível, insípida e inodora para quem não a busca. E, muitas vezes sem saber, olhamos através dessa janela quando amamos, quando amamos e dizemos aqueles clichês baratos do tipo "Somos um só coração", "Você é minha alma gêmea", "Na vida, só se ama uma vez, só se ama a uma pessoa", dentre outros. Pois amar é estabelecer uma conexão com a interseção dos planos, das dimensões, e sentir-se importante, parte do todo. Amar é ser o próximo, animal, vegetal ou mineral, vivo ou não vivo. Amar é sentir-se como tudo, ou melhor, é saber que é o tudo, que faz parte da trama, após abrir as portas e janelas do corpo. Ame e tenha a chance de conhecer a verdade.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Sem título

Por entre todos os panos, sedas e caetanos,
um bichano de face perigosa.
Um bichano que me deixa falar
e que me lambe as feridas.
Cura os meus tempos,
passados e, agonizantemente, presentes.
Ah, bichano-rei do contato
e do cisalhamento.
Da pele de talco.
Dos olhos de lua côncava minguante.
Nosso mundo é um palco de reféns.
Porém, quando do roçar
do teu corpo no meu, bonita,
a ilusão da liberdade
torna-se a nossa realidade,
por entre panos, sedas, tacos, baianos e caetanos.
E, até então, a tua face perigosa de predador
já me cativou.
E eu, presa desavergonhada,
me atiro em teu ninho de amor.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Um passeio pelo universo e pela vida

Há muito o que dizer. Por enquanto, segue um texto inacabado e ainda não revisado:


A vida é um fenômeno simples de entender quando a interpretamos como produto da interação/reação da energia com a matéria. Esse fenômeno é passageiro e o seu produto ocupa um lugar no espaço. Então, falamos, até agora, em quatro grandezas/dimensões básicas: Energia, espaço, tempo e matéria. Essas quatro grandezas/dimensões compõem o universo, coexistindo, mas nunca se misturando. Grandezas de mesma natureza tendem a aglomerar-se em bandas/faixas/zonas, formando uma "estratificação" no universo (que considero ser um campo bandado, composicionalmente, sendo que existem, pelo menos, quatro tipos de bandas, que correspondem as quatro grandezas/dimensões do nosso universo). A energia, por vezes, reage com a matéria, utilizando-a como hospedeira. No fenômeno da vida, a matéria se transforma antes da energia e pode se desagregar, resultando no que se entende, comumente, na "morte" do indivíduo*. Quando da desagregação da matéria, a energia contida nela tende a retornar ao seu estado de maior equilíbrio, num sistema unidimensional, fora do antigo sistema. O antigo sistema se configura como uma "zona de fraqueza", onde as interações energia/matéria tendem a ocorrer com maior facilidade. Analogamente, essa zona de fraqueza corresponde a um plano de foliação ou falha, por onde fluidos podem circular com maior facilidade. Por vezes, ocorre algo como uma descarga elétrica, que pode ser fruto de um desequilíbrio provocado na interface dos planos unidimensionais matéria/energia. E, então, porções de energia retornam a uma condição de outrora e se ligam, novamente, a porções de matéria em zonas de fraqueza existentes em todo o universo, dando continuidade a esse fenômeno que, possivelmente, é cíclico. A "individualidade" é uma criação do ser e, sendo mais direto, do ser humano, que interpretou esse fenômeno da forma mais simples, seguindo o raciocínio mais prático e cômodo para explicar uma suposta marca que diferencia cada ser. Na minha opinião, essa marca, entendida como individualidade, faz parte do fenômeno da vida, observado em escala de maior detalhe. Aumentando o detalhamento, é possível observar "marcas" mais peculiares, como as emoções, a intuição, o comportamento, a tendência de um "indivíduo" a realizar certos atos, como violência e atividades de risco, ou a viver pacíficamente. Nego, então, a partir de um ponto de vista mais amplo, a individualidade, pois considero toda matéria, contendo vida ou não, toda energia, o espaço que tudo ocupa e a passagem de tudo isso, como componentes que coexistem num único sistema, formando uma trama em que todos os elementos estão interligados. Uma pessoa que alcance esse entendimento tende a transmitir e difundir pela sociedade tal iluminação, caso a matéria em que se encontra (ou a sua mente) suporte. Um outro exemplo de interação de duas grandezas é a curvatura da luz, onde a matéria reage com o espaço, curvando-o.
O conceito de universo é comumente pensado dentro do modelo do Big-Bang que, como todo modelo teórico, possui falhas. A falha que encontrei nesse modelo nos conduz a supor a existência de um "nada" que havia antes da explosão, e a insistir na definição e caracterização desse nada. Acredito que, mesmo que superássemos a capacidade atual do nosso cérebro, não seja possível explicar o nada. A impotência que o ser humano sente em não conseguir explicar o nada, pode ter motivado a criação de muitas crenças, mas esse é um campo que prefiro não adentrar. Para mim, o nada é apenas o nada. Nada mais. E, se a expansão do universo for mesmo cíclica, ora o nada envolve o universo, ora o universo envolve o nada. Atualmente, vivemos a vez do universo e o nada há de retornar, um dia.





*Entendido, segundo um ponto de vista comum, como um ser peculiar, possuidor de características únicas, que o diferenciam dos outros indivíduos.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Sem título

Foi sentida uma ausência tamanha
de uma metade, em meu interior.
Da outra, transborda... Transborda.
Através de películas da mente,
vou revivendo a escuridão
e percebo o quanto hoje há luz.

A vida ensina, pedimos e Deus dá (a luz).
Mas a ausência da primeira, tão enigmática
-que errado eu esteja,
ninguém pode alterar.
E os variantes, posteriores, como pude evitar?
Tão mais lindos e puros. Mais iluminados.

Quando à película recorro,
noto que outrora era escuro
e me transformo em água do mar.
Nós não transitamos fisicamente pelo tempo,
mas podemos fazer o tempo voltar - o tempo.

E sempre há um tempo, um momento.
Não importa o que aconteça, somos nós.
Com toda a alegria,
com toda a tristeza,
este, aquele, aquela e os outros
formam um paralelogramo no universo.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sem título

É necessário que enxerguemos um patamar acima para que despertemos o desejo de alcançá-lo. Quando achamos que não temos nada a conquistar, perdemos a sede, a fome e o dom da inspiração. Passamos a viver estacionários, em atentado contra Darwin. Até mesmo os vegetais, enraizados no solo, buscam a luz solar com todas as suas forças e folhas. Vivamos como os peixes saltadores do lodo, que evoluem quando percebem a oportunidade do arco magmático, emergente no oceano. Lembremos, então, de olhar para cima e notar o patamar que emergiu.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Sem título

As pessoas têm uma tendência
natural e orgânica
de, com tamanha obediência,
guardar com mais vividez
as notícias do jornal de hoje.
Tão mais humanas essas seriam
se guardassem todos os jornais,
pilhas de lembranças,
por grau de importância,
não importando
a ordem cronológica dos fatos.
Mas a memória humana é assim:
Esquece os meus melhores atos.
Guarda o agora, descarta o ontem.
Lembra do outrem,
esquece de mim.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Sem título

Num intervalo,
num ponto de confusão,
a estrutura e os póros se abrem
e há lugar para a ligação.
No ponto da fusão,
o dengo se confunde com o assanho,
e o atrito da mistura,
a altas pressão e temperatura,
do sódio ao cálcio,
não se sabe até quando a solução é sólida
e quando entra a carne do potássio.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Nem sempre, meu amigo

Nunca se esqueça que, bem possivelmente, a vida real, muitas vezes, é deveras cruel. E que nunca na vida os caminhos - a sorte - serão como nos filmes, seriados e novelas. Nem sempre saímos correndo, munidos de pouca sensatez e muita paixão, desgovernados, lidando com o trânsito louco da cidade, pagando (nem sempre a gente tem dinheiro pra isso) ao taxista e/ou ao motoboy mais loucos da cidade -"fica com o troco!" -, cruzamos caminhos impossíveis e alucinantes - improváveis! -, chegamos no aeroporto antes do avião da amada decolar, fazemos um discurso e uma declaração magníficos, numa maravilhosa demonstração de oratória, e conseguimos reconquistá-la. Mas, lhe digo, meu amigo, que, às vezes, conseguimos sim, realizar todas essas façanhas. Mas, daí a ela querer voltar... E, como a esperança é a última que morre, ela pode até voltar. Só não lhe prometo os aplausos de todas aquelas pessoas que estão te assistindo no aeroporto, as mesmas que - gentis que são e que não perderiam, jamais, uma linda história de amor e reconquista - lhe deram passagem em sua manobra impossível e alucinada e que contribuíram, de todas as formas, com o seu esforço.

Ou seja, nem sempre o trânsito é bom; nem sempre o taxista pode fazer milagres; nem sempre lhe darão passagem na multidão do aeroporto; nem sempre ela vai voltar; e, se voltar, nem sempre irão aplaudir.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Sem título

Na forma de uma primeira manifestação - neste ano -, reconheço que posso estar em um momento diferente. Antes, acreditava fazer parte de uma "escola", porém, percebi que o que existe são momentos. Momentos na vida, numa trilha que se segue, na qual estamos inseridos. Meu "momento atual" não é o mesmo de ontem. Sendo assim, aguardo o nascimento de novos poemas, sob novas perspectivas, sobre novos sentimentos. Aguardo novas orientações. Uma nova "escola", talvez. Uma nova poesia, não igual a de ontem, nem igual a de amanhã, mas uma poesia do momento.


-Achei importante me manifestar pela primeira vez neste ano.