Sedimento fino

Sou argila,
sedimento fino em suspensão.
Toda intempérie me carrega.
Parte de mim é erosão.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Sem título

Pois é, esse sou eu:
O vilão, a cólera.
Então, não se preocupe.
Não se culpe
nem se desculpe.
O excessivo sou eu,
que entorno você.
Sou assim.
Então, não sinta o inflamável enjôo de mim.

Sem título

O que seria, então, a certeza da finitude
que reside em mim?
Uma portinhola?
Um limite?
Um intervalo de tempo
em que estaríamos
na companhia um do outro?
E só?
Um curto momento
que, como todos, sempre,
teria o seu fim.
Porém, eu seria incompleto.

Sem título

Há uma necessidade de cantar-te, celebrar-te.
Cantar teu nome, celebrar tua existência,
mi namorads frenands.
Cantar-te, celebrar-te...
Na permanência indigna de um trauma surdo,
que ecoe a minha canção,
propagação de palavras
no espaço das ondas.
E que aceites, enfim, a celebração.

sábado, 18 de junho de 2011

Identificação

Pela primeira vez, algo que não é meu. Mas a identificação é tamanha que é como se eu tivesse escrito.


A essência da poesia...

...“É descrever o que se sente verdadeiramente, a cada instante da existência. Não acredito num sistema poético, numa organização poética. Irei mais longe: não creio nas escolas, nem no Simbolismo, nem no Realismo, nem no Surrealismo. Sou absolutamente desligado dos rótulos que se colocam nos produtos. Gosto dos produtos, não dos rótulos”.

(Ricardo Eliecer Naftali Reyes y Basoalto)

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Mundos paralelos, emparelhados, para alheios

Não te preocupes.
Pois o mundo em que vivo não é este.
É aquele outro,
que você nunca ouviu falar.
Vivo num mundo meu,
onde sou o rei, o servo,
o palhaço, o alfaiate,
o general e o soldado.
Nada do meu mundo
coincide com este.
Então, não te preocupes.
Pois eu,
rei, servo,
palhaço, alfaiate,
general e soldado,
jamais governarei, servirei,
brincarei, costurarei,
ordenarei e combaterei
neste mundo real,
onde se faz tudo isso de verdade.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Salve a noite, menina lua!

Na noite do dia em que nada acontece,
ratos conversam enquanto a chuva cai,
chuva cai enquanto os ratos conversam.
E a lua? Cadê?
Vai ver se cansou. Tirou férias. Fez greve...
Vou pedir, então, a menina que sonha em ser lua
para assumir o seu lugar,
pois não é para qualquer uma
o ofício de satélite natural.
É, ela sabe bem ser lua.
E acho que acabo de salvar
todos os amantes, trovadores, cancioneiros,
bem como os vampiros e morcegos,
bem como os ratos fofoqueiros.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Ciclo de mim

Mais uma vez quase no zero,
no meu eu,
no meu íntimo.
Quase na forma como cheguei:
Quase natural. Quase desapegado.
Quase.

Correspondência amarela

Uma grande surpresa.
Só não sei o que fazer
com esses papéis colados,
um lápis amarelo
e um cílio no fundo do envelope.
A razão dana-se em indagação.
Mas o estalo é amigo da emoção.
E a emoção não pede explicação.
Esse é o grande segredo:
Não importa a correspondência,
se decência ou indecência.
O que importa mesmo
é a besta amarela
numa latitude acima de mim.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sem título

Desenhados na superfície,
na fôrma, na forma,
na lata, na chapa...
Ruídos da ineficácia
do abre alas da epiderme
e cadeado de alma
cuja chave é o tempo.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O tempo

A maior ilusão de todas é o tempo.
A sua sensação
é a maior peça já pregada no ser humano.
Não existe o tempo.
Esqueça passado, presente e futuro.
O que existe
é algo como a interação dos três:
Tudo acontece.
O que existe
é uma intercalação, um ritmito,
de ora instante, ora sempre,
ora ponto, ora imensidão,
que conta a história do universo.

Coração amarelo bufado

Você me mostra esse teu coração amarelo
e meu mundo fica roxo
de abraço esmigalhante.
Aperto triturante,
rosto com rosto
e superfície cisalhante.
Você me mostra esse teu coração amarelo
e retornam as cores da alegria.
Essa é a resposta à xantopsia.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sem título

Olha, vou te dizer...
Eu quase não tenho inteligência emocional.
Não sei lidar com muita coisa.
Sou burro e impulsivo.
Precipitado.
Faço as coisas de coração.
Nem sempre da maneira correta.
Mas de coração.
Mas eu só tô falando de mim,
independente de qualquer coisa.

E cada um tem o seu tempo.
Sou lento em quase tudo.
Sou muito do resultado
da dinâmica do universo.
Não me arrisco a dizer
que sou isso ou aquilo,
que sou assim ou assado.
Tudo depende muito.
Tudo sempre depende.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Sem título

Respeite o vento, em alto mar.
É ele quem conduz tua caravela.
Respeite a água, salgada ou não.
É sobre ela que você navegará.
É a água o que há
entre você e o fundo.
É o vento o que há
entre você e as estrelas do céu-tela.