segunda-feira, 9 de abril de 2012
Para os fanáticos românticos
Não existe alma gêmea. Somos todos parte do todo e, às vezes, alguém percebe isso. Algum ser, em estado avançado de espírito, alcança a luz que entra por uma fresta ou por uma janela e nota que amar é saber que somos iguais. O ser humano, então, que sempre gostou de dar nome às coisas, chamou de amor essa sensação de igualdade. Somos matéria e energia, componentes de uma trama suprema. O amor, por si só, já é uma janela e, quando achamos que o sentimos por algo ou por alguém, na verdade, estamos olhando através dessa janela, cara a cara com a verdade de Deus, com a verdade absoluta do universo, invisível, intangível, insípida e inodora para quem não a busca. E, muitas vezes sem saber, olhamos através dessa janela quando amamos, quando amamos e dizemos aqueles clichês baratos do tipo "Somos um só coração", "Você é minha alma gêmea", "Na vida, só se ama uma vez, só se ama a uma pessoa", dentre outros. Pois amar é estabelecer uma conexão com a interseção dos planos, das dimensões, e sentir-se importante, parte do todo. Amar é ser o próximo, animal, vegetal ou mineral, vivo ou não vivo. Amar é sentir-se como tudo, ou melhor, é saber que é o tudo, que faz parte da trama, após abrir as portas e janelas do corpo. Ame e tenha a chance de conhecer a verdade.
terça-feira, 3 de abril de 2012
Sem título
Por entre todos os panos, sedas e caetanos,
um bichano de face perigosa.
Um bichano que me deixa falar
e que me lambe as feridas.
Cura os meus tempos,
passados e, agonizantemente, presentes.
Ah, bichano-rei do contato
e do cisalhamento.
Da pele de talco.
Dos olhos de lua côncava minguante.
Nosso mundo é um palco de reféns.
Porém, quando do roçar
do teu corpo no meu, bonita,
a ilusão da liberdade
torna-se a nossa realidade,
por entre panos, sedas, tacos, baianos e caetanos.
E, até então, a tua face perigosa de predador
já me cativou.
E eu, presa desavergonhada,
me atiro em teu ninho de amor.
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