Sedimento fino

Sou argila,
sedimento fino em suspensão.
Toda intempérie me carrega.
Parte de mim é erosão.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Somos todos sedimentos

Na vida não temos controle de nada, no final das contas. Optar por viver é optar por ser refém do universo, que nos carrega como se fôssemos sedimentos. Somos constantemente remobilizados, retrabalhados, desgastados, desbastados, lixiviados, enriquecidos... De todo modo, iremos para o fundo do manto, um dia. Ou para a atmosfera. Ou desaguar em oceano qualquer. De todo modo, não somos nós que escolhemos. De sempre, o universo é que controla.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sem título

Surdo.
Cego.
Mudo.
Caminha nu
aquele ser humano.
Para ele, a carne já não importa.
Marcha.
Como quem fora programado:
A alma é o seu guia.
Na fantasia
vive a sua vida.
Mesmo que sofrida,
insistente vida.
-Oh, ser humano!
O universo tanto gasta
para retroceder os teus ponteiros.
E continuas a marchar.
A missão é passar.
A missão é viver.
A missão é prosseguir.
Mesmo apanhando.
Mesmo que venha a dar bicho.
Mesmo que o tomem as trepadeiras.
Arde uma chama
que ora o envolve com tamanha intensidade,
que elimina as impurezas.
-Oh, ser humano sonhador!
Oh, ser humano de fé.
Como continuas de pé?

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sem título

Algumas palavras reverberam sem atrito até agora
aqui, dentro da minha cabeça.
Palavras
que ouvimos por aí.
Ainda ecoam dentro de mim.
Já rebateram nos meus pés,
ricochetearam por minhas extremidades.
Marcaram até os meus ossos.
E tocam feito sinos na minha caixa craniana.
Palavras proibidas. Ou não!
Palavras agudas, mas verdadeiras,
que não gostamos de ouvir.
Trombetas nos tímpanos.
Serralheria nos estribos,
bigornas palavras,
martelam minha mente.
Surdo serei quando aqueles dentes
morderem a minha alma.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Sobre gatos

A gente tem uma mania de achar que todo gato (Felis domesticus) é vadio e fácil. Conheço gatos sérios: Kakaroto é um bom exemplo; gato de poucas palavras, sempre centrado em suas atividades felinas e bichanas, hoje pai de quatro filhos (eram cinco, um morreu) -e um pai cuidadoso, sempre por perto, embora tenha ouvido relatos de pessoas próximas que se ele tivesse a chance, devoraria seus filhos. Mas enfim... O conheço desde criança, quando lá na R1 chegou. Sempre teve esse jeito sereno de ser, não gosta muito de contatos e é aí que quero chegar: Achamos que todo gato é uma putinha, sempre querendo um carinho. Não é bem assim. Todo ser humano (Homo sapiens sapiens) é alegre? Somos todos hostis? Todos curiosos? Todos amorosos? Todos ranzinzas? Todos ganhamos na Mega Sena? Todos...? Todos? Não. Com os gatos funciona do mesmo jeito.
Outro gato que conheço é o tal do Periquito: Rapaz sensacional, tem a alma pura de uma criança pura. Tão amoroso esse menino... A ele pedi um milagre: Segredo. Estou aguardando.

Sem título

Sozinho,
como quem realiza um mergulho rápido e objetivo
no meio da solidão
do negro e vasto oceano,
que se estica e se espraia
-foge para as bordas
após o toque do meu corpo solitário
em suas águas-,
enquanto eu me comprimo
e me recolho no fundo,
depois do mergulho certeiro:
Avante ao centro da Terra!
Mergulho certeiro aonde o oceano se esvazia,
como se fugisse de mim,
inundando todo o continente.
Estou só:
Submerso num oceano vazio.
Cercado de água salgada
e louca pra me devorar,
pois tudo é onda.
Hoje sou uma ilha em extinção.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Sobre o que é humano II

Dois corpos se misturam.
Duas almas se entrelaçam.
E os quatro coexistem
até onde dá.
E quando não dá...
Cautela,
ou corpo e alma
ou corpo sem alma.

Sobre o que é humano I

Corpo e alma coexistem.
Corpo e alma se misturam
e desmisturam.
Corpo e alma se confundem
e tumultuam.
E quando se rompem...
Cautela,
ou só corpo
ou só alma.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sem título

Eu tento
passar sentimento
-às vezes até consigo passar-
de passados tão passados
e repassados nessa tábua...
As palavras são o meu veículo
para a minha máquina ideal.
Como aquela
da revolução industrial,
da física de Carnot.
Só que não.
Cem por cento é ilusão.
Por tudo,
por nada,
as palavras tentam.
Por sempre
eu tentarei
descrever o meu mundo.