Sedimento fino

Sou argila,
sedimento fino em suspensão.
Toda intempérie me carrega.
Parte de mim é erosão.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sem título

Conversas profundas nunca foram possíveis com Ela. Mas, mesmo assim, Ele mantém um diálogo -não se sabe se diálogo com Ela ou consigo mesmo. Parece que Ela o inspira, de algum modo. E, de algum modo, partindo dessa suposição, de reatividade e inspiração, pode-se inferir que isso já é o bastante para se estabelecer um diálogo. É ação e reação. Mas, como é possível uma reação de quem não fora tocado? Isso ainda é um mistério. É uma estranha comunicação, às suas maneiras. De alguma forma Ele é tocado. Em seguida, sua imaginação faz o resto. Mas uma dúvida insiste em permanecer: Ele fantasia ou vive infinitos instantes? Também não se sabe mas, sabendo que instante é algo inexplicável, intangível e divino (pois dá-se a Deus tudo o que não se pode explicar e/ou tocar), tendo a crer que Ele vive a colher pistas fantasiosas pelo vão (o que seria o "infinito instante": nada mais que um vão ou um intervalo de tempo, dentro do qual pode-se viver lembranças que propiciam sentimentos intensos de modo a confundir a concepção de tempo -tão relativo tempo- daqueles que já tentaram e dos que continuam tentando descrevê-lo, romantizando-o ou não). Também tendo a crer que Ele manipula tais pistas para que possa dar vida ao que seria uma conversa. Para que possa criar a sua pseudo realidade. Ele, pelo menos, sente vontade de conversar e não se preocupa em saber sua identidade. Ele só quer conversar. Ele quer dar sentido ao vocábulo "diálogo" porque, até então, este nem se promoveu ao status de palavra.

3 comentários:

  1. Bravoo você escreve maravilhosamente...


    "sabendo que instante é algo inexplicável, intangível e divino (pois dá-se a Deus tudo o que não se pode explicar e/ou tocar)"

    Adorei

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  2. Inspirei-me, por concordar, em um trecho de uma música de Marcelo Camelo (Pois É, do álbum 4), onde ele diz "...pois é de Deus tudo aquilo que não se pode ver...". E o instante, para mim, é como a imensidão do universo. Na verdade, seria uma antítese e não um paradoxo, pois interpreto a "imensidão do universo" e o "instante" como sendo dois elementos extremos e "elásticos", onde o instante se estica ao máximo até alcançar a imensidão e retorna ao ponto inicial. É como o Big Bang e o zero absoluto: São duas coisas até hoje incompreensíveis e inalcançáveis pelo ser humano. Então, mesmo a imensidão do universo e o instante serem dois elementos tão extremos, no fundo fazem parte da mesma trama divina, a qual o ser humano ainda não obteve a graça de compreender.
    Matematicamente -ou filosóficamente-, temos o exemplo do limite, que é um intervalo onde, por exemplo, entre 1 e 2 pode haver infinitos pontos. Isso, pra mim, é um exemplo de imensidão, onde um ponto poderia ser confundido com um instante.

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